quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
O Natal de Fernando Pessoa
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas.
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?
Vamos suspirar e ver as “cousas que há nas flores”?
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Top do Ano
* Teresa fazendo cara de porquinho.
* Mari Paiva cantando Los Hermanos no caminho da Barra do Una
* Cinco a Seco
* Natalinda colocando abaixo São Paulo inteirinha
* Ronaldão no Corinthians
* RJ virando Barcelona com a Nilds
* O silêncio na chácara do Jockey no show do Radiohead.
* Robert Partisson
* O picin-mexidão do Primo e o amanhecer em Picinguaba.
* Antes de começar o mundo, do Mia Couto
* A cor de esmalte “espelho” da Impala.
* O abraço levemente apertado do Vincent Cassel
* Alma Imoral
* Salada Juliana e Clerico, do Che Barbaro.
* A cara do PP quando me viu chorando para um policial no Guarujá
* A posse do Obama
* Os olhares fofoletos dos avós da Nataly, nas boda de ouro.
* O Rei cantando "Mulher Pequena".
* O programa de judeu, na Carnegie Deli, em NY
* A biografia da Clarice.
* Sonho Bollywoodiano.
* As meninas XoXo.
* O Antídoto no Itaú Cultural
* Apenas o fim.
* Caetano bem pertinho, cantando “quero ver Irene dar sua risada”.
* Alguns quilinhos a menos na balança.
* A assinatura da New Yorker.
sábado, 14 de novembro de 2009
Just how it should be.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Luciana e Vitorio
Pois foi. Angustiada, machucada e seeking for love. Os argentinos - nós sabemos - não decepcionam. Mas não foi por um porteño que ela se enamoró, sino por un italiano de Milano. A "morena de angola", que mexe o chocalho na canela, um e setenta e pouco de altura, sorriso que reluz a 8 quilômetros e um charme que me desculpem, só as tupiniquins têm - adentrou uma festinha, no coração da Argentina. Era dia de caminhas longas, de turismo, de lembranças do antigo amor, de cansaço, enfim. Enquanto um rapaz simpático sinalizou que queria conhecer melhor a moçoila, ela fez que não viu. Gostou mesmo de um diferente bigode que, parado na multidão, fez graça para ela.
Foi assim que a Luciana e o Vitorio se conheceram. E alimentam uma paixão dolorida pela distância. E tudo bem. O que é o amor senão perder a rima de lé com cré ?
Ele é amante à moda antiga: abre a porta do carro, segura a bolsa dela, faz todas suas vontades. Ele, gringo louco por caipirinhas de maracujá, deixa ela doida quando vai para a fazenda e a faz andar “dji cavalo”. Ela, cor de jambo, carinhosa é cheia de mumunhas. Sente ternura quando ele fala um português com sotaque carregado. Ri das coisas “afascinaaantes” que ele conta. Chama ele de “Vitto” e leva seu carcamano para cima e para baixo nesse Brasil de Meu Deus.
E estão eles, na mesa do Genial. Vitorio gesticula grande como os italianos dos filmes de Fellini. Pede um “galeto a passarino”, grita pra ela “mi amooor” e faz a exigência : “quero bailar samba”. Ela ri e corrige, delicadamente, as concordâncias verbais dele. Amor de inflamar tendões, de desligar o celular, de se perder nas praias de picinguaba.
Perto disso, atravessar os litorais com doçuras e sussurros de berimbau é só miragem.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
she´s got it
Fazem alguns dias que, zapeando na TV, pesco o programa da Oprah. E estou encantada com ela. Não foi a primeira vez que eu assisti porque a gente escuta de “uma das mulheres mais poderosas do mundo”. É que, na maioria da vezes, o programa é supermelodramático. Mas sim, ela é poderosa. Esses dias por exemplo, vi o Mike Tyson desabar em lágrimas do lado dela. Vocês imaginam o que é o Mike Tyson? Um cara louco que morde as pessoas, um monstro com uma tatuagem no olho, um homem violento que bate na mulher, um troglodita sem limites, enfim. Ele é um monstro, mas do lado da Oprah, pareceu só um monstrinho. E gente, vamos combinar que fazer o Mikão chorar, não é pra qualquer um, não. Fiquei prestando atenção no jeito que ela tem de criar uma certa intimidade com o entrevistado em cinco minutinhos. Dá um baile nas nossas entrevistadoras de comportamento. Não digo as jornalistas que falam de economia e Nobel de literatura, nem dos programas da tarde, vulgares. Falo das nossas Marilias Gabrielas. Ah Oprah. Como você é fofoleta. tem humor, graça e carisma. Sei que deve ser um louca, uma chefe histérica, centralizadora, excêntrica. Mas a verdade é que ela ri das piadas, pergunta coisas prosaicas, não tem vergonha de parecer burra, tonta. E consegue uma coisa super difícil: faz perguntas provocativas sem ser vulgar. E entra no clima, acho isso o máximo. Enfim, só queria dividir. Prontofalei.
"Que dá medo do medo que dá"
É o que diz a música do Lenine. Sou mega medrosa. E esse vai para os que são como eu, cheios de medinhos.
Do avião na hora que sobe, dos olhares tortos nas esquinas, de assalto, cachorro bravo. Medo de chuva muito forte dessas que alaga a rua, de perder a chave de casa, de comer comida estragada. Medrosa, eu? Imagina. Medo de nunca mais sentir paixonite, de perder o fôlego na hora certa. Medo de não agradar, de ser grossa, desrespeitosa. De quebrar mão, pé, cabeça. Medo de ficar estagnada. Medo dos bêbados que grudam. Dos loucos que acham na gente, aquilo que procuram no universo. Medo de não conseguir nunca ficar quieta, inteira, de não aceitar o que tem. Medo de ser engolida pelas proprias contradições, pelos fantasmitas que visitam em noite de insônia. Medo de não conseguir nunca dizer não. Medo de esse post parecer a Regina Duarte dizendo "tenho medo". Medo de perder o bom-humor, a energia. De esquecer as letras das músicas que estão na ponta da língua. De inveja, doença, morte. Dos mais infantis aos mais psicanalíticos. Da brincadeira do copo, da Convenção das Bruxas, de escorpião e dos escorpianos. De exagerar nas estampas e cores, de ser clichê, superficial. Medo de parecer arrogante. Ou fútil. Infantil, metida. Fofa demais, fofa de menos. Medo de perder o tom das coisas, de deixar escapar pessoas significativas. Medo de machucar quem não merece. De ser arranhada por unhas alheias. Medo de ser dominada pelo ciúme. De descontar na pessoa errada, de se frustrar demais. Medo de desistir, voltar atrás. De não conseguir tomar decisões sérias, de ir no DETRAN, de ficar perdida em bairro desconhecido, de pensar maldades bem maldosas, de andar de bicicleta em SP. Medo de energia ruim, de gente sem caráter. De ser medrosa demais.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Mini panda
* Sorvete de menta choc chip da la basque me deixa com água na boca.
* Minha visão sobre futebol mudou depois que fui assistir o Corinthians e vi penaltis ao vivo num Morumbi lotado.
* Gosto de vermelho e amarelo.
* Nunca consegui fazer uma boa trança nos meus cabelos.
* Já assisti 688475345 vezes o filme A Noviça Rebelde.
* Tenho algumas obveidades: amo chocolate, acho o Jonhy Depp lindo de morrer e adoro ganhar presentes.
* E algumas não obveidades: quebrei a cabeça, mas não consegui pensar em nenhuma.
* O disparo da risada minha sobrinha me emociona.
* A música como 2 e 2 são cinco me dá um apertinho no esôfago.
* Tenho tantos amigos que as pessoas têm inveja e ciúme.
* Tenho ciúme de quem me testa.
* Tenho inveja de quem não sente culpa.
* Uma confissão? As vezes me sinto muito boba
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Playing For Change
O projeto é lindo demais.
Mark Johnson começou a reunir, há quatro anos, materiais de diversos músicos que tocam pelas ruas do mundo. Deu nisso. Uma mistura fina com pitada de “ONU”. O mote? conectar pessoas por meio da música.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
we´ll have ...
Ontem, por exemplo, tive que voltar à faculdade para buscar meu famigerado diploma. Achei que ia ser indolor e tal. Mas dá? Quem tem olho voltado para fora, é um caminho sem volta. Seria bom passar imune à algumas coisas.
***
Chegando à Pontifícia, a avalanche. Os olhinhos atentos não deixaram passar nadinha de nada.
A PUC não é mais a mesma. As casinhas antigas das redondezas e fundos de quintas usados como estacionamentos pelos flanelinhas, deram lugar a uma Amor aos Pedaços apoteótica e um mini complexo de conveniências. Bem American Way. Mas pera lá. A PUC é tudo, menos conveniente. Ter uma Amor aos Pedaços na rua detrás é quase uma afronta ideológica. A PUC é sujinha, é low-profile, é hippie... é uma delícia! Minha mini angústia aumentou quando, na hora de buscar o diploma, não demorou mais do que... 5 minutinhos. Opa, opa! Aquela universidade é tudo menos rápida. As coisas são feitas a mão, tudo demora, são trocentas burocracias... Mas agora mudou, até senha eletrônica tem na secretaria. Primeiro Mundo, pessoal. Poxa, não faz tanto tempo assim que eu saí, para eles aprenderem a fazer as coisas "direito"... Azeitona.
Já resignada, fui andando por aqueles corredores e de repente, em meio a tempestade, veio. A PUC que eu conheço. Junto com ela, minha mininostalgia. Descendo a rampa vejo um cartaz: "Ato na praça da cruz, amanhã. Contra a proibição na PUC". Ahhh home, sweet home. O povo das artes do corpo está lá, jogado no chão do quinto andar, depois da aula de massagem. O prédio continua velho, as meninas estão de saias rodadas, flores no cabelo e bijuterias compradas em Caraíva. Falam com gírias de psico-puc e combinam de ir no forró. Sim, forró. Os meninos, com jeitinho de Bronx ,se misturam aos terninhos e gravatas dos mini advogados. Na porta do xerox, um cartaz pintado a mão: "FESTA OPEN BAR - compre os convites aqui". E o fulano no violão arranha o eterno reggae. O pão de queijo ainda é gostoso e a CONFIL tá lá, igualzinha. Rastafáris espalhados pelo pátio, um CA caindo aos pedaços e ele... o professor vagando por ali.
***
Já com diploma em mãos, cabelos arrepiados com a chuva e a sensação de pós azeitona. É, um sentimento de alívio apareceu. Foi a certeza de que foi muito gostoso. Tudo. E que querer postergar isso, é bobagem. Porque o que a gente tenta levar, bem sei, não dá certo.
E ah... um pouquinho de saudade não faz mal pra ninguém sentir.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Ontem entrevistei o Arnaldão.
Foi no escritório dele, pertinho da Fnac. Estava chovendo, era no meio da manhã - quase nunca tenho pautas de manhã, por causa do fechamento - e eu estava atordoada com celular, gravador etc e tal. Mas sabe aquele lugar que te é familiar, por alguma razão? Foi isso. Então enquanto eu falava com a assessora dele e, ao mesmo tempo, ligava para o fotógrafo, já fui entrando na cozinha ( Oi Marilia, folga?), me servindo de café, quando ele apareceu.
É engraçado esse negócio de falar com pessoas assim, tão evidentes. Dá uma sensação tão doida. Sei lá, parece que eu já conheço o Arnaldo Antunes, sabe? É como se eu tivesse sentado com ele, Marisa e Carlinhos juntos - nos tribalistas naquele clima ‘lá em casa’. Parece que, por alguma razão, eu entendo a amizade que ele mantém com os Titãs até hoje. Mas te confesso Nata, tava meio insegurinha com essa entrevista. Não sei se é aquela voz grossa dele que me assusta ou o fato de eu gostar das letras admirar o trabalho... sei lá. A gente sempre precisa do colo jornalístico, né?
Pilulinhas pandísticas à parte, logo que sentamos na sala, cheia de quadros dos tempos de titã, discos de platina (lembra deles?) e cacarecos ... a coisa fluiu. Logo adotei a postura “mesmo com essa cara de menina, sou repórter”. E sabe Nata, apesar do vozeirão, ele é bem sorridente. E inteligente, né? Falou de arte sem a menor postura pedante. Adoro. Como diria a minha chefe: “A Marilia volta das entrevistas sempre com essa cara de satisfação”. Fazer o quê, sou filha da minha mãe que sempre se disse uma ‘maria -sem-vergonha’ : só precisa de um pouco de luz pra sair brotando por aí. That´s me.
Achei uma graça que ele, com toda a pinta de poeta concreto e rockeiro, faz um monte de coisas para os filhos. Além do CD “pequeno cidadão”, escreveu um livro só com as frases filosóficas do filho, quando tinha 3 aninhos. Gente, dá pra aguentar?
Aí, falando do Cd Novo, iêiêiê, que ele me confessou. Tem uma música que ele escreveu pra vc, Nata. Foi depois de um papo que vcs tiveram, em pleno Born, num verão catalão. Ele me disse: “conversei com a Nataly sobre essa coisa de ir embora, se sentir distante, fora ... aí nasceu a canção longe”. Contei pra ele que vc tava em SP – por pouco tempo – e ele te mandou um beijo enorme. Falou até para gente combinar de tomar um suco no Açaí novo que tem ali na Natingui, vc topa? Sabe cumé, né amiga, é morador da Vila Madalena, difícil arredar o pé de lá ...
Besote grande,
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Emiliano Castro

segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Mulher Pequena
Lembro direitinho das palavras do médico, depois de eu fazer exames, quando tinha 13 anos para saber se seria “baixinha” para sempre.
Minha esperança era o tal do estirão. Afinal, as meninas da minha classe já eram bem maiores do que eu. Mas não teve jeito, nem estirão, nem comendo muita proteína. Nunca consegui me livrar dos meus 1,55. Tampouco queria ser a Ana Hickmann. Mas assim, 10 cm a mais... não faria mal nenhum.
Que fique claro... não é assim, RUIM. Mas que dá uma invejinha (branca) das mulheres altas, esguias, cheias de pose - isso dá.
Tem o lado prático que é meio complicado, na verdade.
1-Banco do carro- Por mais que eu levante no máximo, não consigo enxergar os buracos.
2- Shows - No do Radiohead, por exemplo, fizeram um telão cubista conceitual. Ou seja, zero de solidariedade com quem necessita do telão para VER, ora bolas.
3- Barra da calça - SONHO com o dia que eu possa vestir uma calça e sair saltitante por aí, sem ter que deixar para fazer a barra, pagar, ir buscar... é uma funça, minha gente.
4- Quilinhos a mais - um PESADELO. Se uma mulher alta engorda 1 ou 2 quilinhos, passa despercebido. Agora uma baixinha...
5- Ser levada a sério - Só porque somos peques, não significa que somos infantis.
6- Os lugares comuns - Para citar dois: “toda baixinha é invocada” e “é nos menores frascos que estão os melhores perfumes E PIORES VENENOS”. É mole?
“ Ah... mas mulher baixinha tem seu charme” me dirão, alguns. Hum. Será ? Talvez.
Mas gosto de ser a única ‘peque’ da minha patota. Tirando a Nilds, claro. Ainda ganho em alguns centímetros, apesar dela negar. Gosto também da ternura que a gente provoca nas pessoas, vez ou outra, simplesmente por ser um pouco mais compacta.
Mas feliz e orgulhosa mesmo... só sexta-feira passada no show do Roberto Carlos, quando ele cantou pra gente. Pequenas, uni-vos
Vai Rei!
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Tulipa Ruiz
E a menina-flor foi alçando voo. Canta, compõe, ilustra e é toda cheia de graça. A última vez que fui num show, há alguns meses, achei muito buni, ela homenageado a avó, que estava na plateia. Embrulha.
Agora, florzinha Tulipa, todo mundo quer o seu CD. As pessoas perguntam, descascam o seu myspace inteirinho em busca da sua voz. Avisa a gente tá?
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Sobrançaria
Foi desde o primeiro dia de aula. Quando ele começou apresentando Guimarães Rosa, Machado de Assis e Lima Barreto. Só contos ou capítulos. Lembro direitinho disso. Ia relacionando os textos com a “realidade” – suposto objeto de estudo do jornalista.
Era categórico, aquele professor, todo cheio de soberba. Mas não era essa a sua graça, ou bom, tá, talvez um pouco. Mas ele tinha um quê de normal, sabe?
Disse, numa aula, todo metido e sem muita abertura para questionamentos, que o Chico Buarque era “o último compositor de herança literária”. Eu achava bonito como ele dava um jeito de fazer referências aos sentimentos.
E aí, teve um dia que ele veio com essa, do significado de sobrançaria. “É superar o outro de uma boa maneira”, definiu. Bingo! Era isso. Não estava apaixonada, não era amor platônico nem nada dessas baboseiras, o que eu queria, era “sobrançar” ele, de alguma maneira. Queria ser mais sensível, mais instigante e misteriosa do que o professor. Tonta né ? Porque todas as vezes que eu fui lá, cheia de coragem e segurança, ele delicadamente me colocou no lugar de aluna.
Os meninos, claro, ficavam enciumados. Mas como eu, sabiam que não dava para competir. “O cara é bom, gente” eu defendia. Mas não tinha jeito, homem quando dá pra ter inveja , é pior do que mulher. “Ele é arrogante, metido e presunçoso”.... alguns mais sensatos colocavam de outra maneira :“ Ele é ótimo professor, mas faz questão de se mostrar para as menininhas”. Eu sabia de tudo. Como ele dava uma atenção especial às mulheres ( mas era uma delas, fazer o quê), como ostentava seu conhecimento sobre as coisas ( mas isso gerava uma raiva mesclada com admiração) e como era implicante com alguns alunos ( mas isso só fazia dele diferente).
Numa prova, escrevi uma frase de Guimarães Rosa. “Minha porta é para o Nascente”. Ele sublinhou e escreveu em vermelho: “Bonito”.
Mas bonito, mesmo, foi quando, falando sobre solidão, ele leu o poema “só” de Manuel Bandeira
Poema só para Jaime Ovalle
Quando hoje acordei, ainda fazia escuro (Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia. Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei, Bebi o café que eu mesmo preparei.
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro efiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheresque amei.
“Existe coisa mais só do que beber o café que você mesmo preparou?” Perguntou. ele.
Não, professor, não.
Anos depois, trombei com ele, no meio da rua. Sem apagador, giz ou soberba alguma. Estava calmo, olhando de igual para igual, com a mesma risada irônica. E mesmo sem eu saber, ele já tinha notado: estava ali, uma tímida sobrançaria.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Gregório Graziosi
sábado, 22 de agosto de 2009
MONOTEMA
O apego ameaça e violenta a integridade de um ser humano da mesma maneira que uma traição. Não existe experiência de traição que não venha acompanhada da de apego. Na verdade, é nessa dinâmica que devemos manter nossa atenção. Quando um indivíduo ou mesmo indivíduos que mantêm relações afetivas fazem movimentos trangressivos movidos pela alma, são imediatamente confrontados com movimentos de apego pelo corpo."
Nilton Bonder, A Alma Imoral.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Mudou, ponto.
Mas o que a gente faz com o famoso : “ Tal pessoa mudou muito” ?
Queria poder guardar as mudanças em gavetas certas, etiquetadas: 1984 : o ano do nascimento. 1998 : o primeiro amor, 2001: a briga que dividiu águas, 2004: ano da liberdade... e por aí vai. Mas a gente esquece, encaixa as mudanças e inventa o que quer lembrar.
E o que a gente faz com o clichê: “Eu mudei, é só isso.”?
Queria registrar a cabeça das pessoas - como em fotografias. Para depois poder colocar lado a lado o ‘antes’ e o ‘depois’. Comparar os traços, as caretices, as novas feições de ideias.
Ficaria tão mais fácil . Aceitar os pequenos egoísmos, as canastrices, a falta de vivacidade, que ás vezes, toma conta das pessoas que a gente gosta.
Queria um cata-vento para assoprar para longe, os maus agouros e as saudades dos antigos verões quentes. A gente não percebe, mas nada é de um dia para o outro. São câmbios que envolvem a gente como um lençol sedoso, indefinido.
Queria me convencer que há coisas que só são bonitas depois de amarelecidas.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Alma Imoral

Entre o disparo de 89247836527634 pensamentos e os sentimentos compartilhados com a Paulinha, existiu um espaço para o céu. É, o céu. Aquele céu, mesmo. Eu entendi tudo. O que é traição e o que é tradição. Entendi a “judia budista” que existe dentro dela e de mim também. Assim como os tropeços, os erros, essas bobagens tão insuportavelmente gostosas que a gente faz por aí.
Ah. Como pode, né? As pequenas epifanias, as ternuras terrestres, os beijos sujos, as mãos na cintura, as risadas de criança. Tudo isso permeado de parábolas do velho testamento. E não assusta, porque se tem uma coisa que a nossa geração não pode ouvir falar, é religião. Mas não é cafona. Não mesmo. Putacoisalinda.
Aí, no meio desse melange completo, lembrei de uma crônica do Paulo Mendes Campos que eu adoro, “Acorrentados”. Apesar do nome ser meio pesadão, na verdade ele destila suas palavras sobre as coisas mais BUNIS às quais ele se sente 'acorrentado'. E isso não tem a ver com homem, mulher, casa, cachorro, bens. Ele fala de coisas - aparentemente banais- mas que dizem dela - da tal da alma. Aquele sentimento de supercalifragilisticexpialidocious, que as vezes, dá na gente.
É isso, minha gente. Coisas de panda, de gente que como diria o cronista. "são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre".
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Pola
Pola amada. Amiga querida que vai embora - para ser a maior repórter desse país. E eu - panda que sou - sei que ela tem que ir, alçar seu voo, colocar toda a agilidade, inteligência e OLHOS AZUIS ( ela vai me matar, mas o blog é meu e eu escrevo o que eu quiser), em rede nacional. Mas meu lado egoístinha fica azeitona que ela não vai estar aqui, pertinho de mim, o tempo todo. VOU MORRER DE SAUDADES. Saudade desse jeito dela de embarcar nas coisas ... dançar com a Lu Seleme, rir das piadas do Planet. Vou sentir falta da cara que ela me faz quando conto minhas peripércias diárias. E o jeito direto e objetivo de dizer as coisas. Não vou me aguentar de saudades das ligações no meio da tarde, reivindicando atenção. Nórdica linda, que usa chapéu de praia e canta “hoje acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado...”. Destemida e corajosa, essa Pola.
Me diz, Bonelli, quem vai topar fazer comigo um regime fictício “não bebo cerveja porque engorda. Agora só (8) caipirinhas ?” Quem vai me passar notinhas embriagadas e puxar minha orelha quando eu estiver sendo muito manhosa no meu blog-bobo? E me acompanhar no sambão da praça Roosevelt em pleno sábado a tarde? Fazer um scheadle de guerra para assistir TODAS as mesas da flip e demorar 78 minutos para passar rímel nos olhos ? Ah Pooooooooola. Vai se preparando, que eu vou passar o reveillon lá com você. Vou me aboletar na sua casa, a gente vai acender velas para Oxum, jogar brincos para Iemanjá e cantar cantos de Oxalá.
Olha, desculpa do dia da carona no churrasco do PP, viu? Quando eu for te visitar, prometo que vamos embora na HORA QUE VOCÊ QUISER.
E mais... vou deixar você levar aquela minha blusa florida de alcinha - que fica bem melhor em você do que em mim - assim você também não se esquece dessa sua amiga atrapalhada mas que te ama, tá?
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Trocito de pan

terça-feira, 28 de julho de 2009
Não tem mais essa história. Acabou o fôlego.
Será que a gente vai deixando a ingenuidade pelo caminho, como diria a Kiru? E até que ponto isso é bom pra gente ?
Eu tinha a sensação de que ele era uma frase - daquelas que estão na ponta da língua - mas que a gente não consegue escrever. Estar perto dele, era andar por uma casa sem nenhum ângulo reto, “torre traçada por Gaudí” - como diria Caetano.
Hoje, tenho um pouco de nostalgia, até. Fico perdida nas pedras invisíveis que eu já taquei nele, nas ressacas de noite mal bebidas e cheias de “choro - canção”. Se tudo fosse lindo e linear, não existiria arte e os analistas estariam desempregados. Pois é. Ás vezes, me visita a esquisitice dessa relação tão espessa e trandescendente. Um cd gravado, a declaração roubada depois de um dia de sol: "você está tão linda, vermelhinha assim...", a estupidez cheia de graça, até na hora de cozinhar um miojo. Pensava na risada dele, ou em como ele ficava desconcertado quando eu estava triste - menino mimado que não foi criado para tristezas. E dois minutos depois, lá estava eu, rindo á toa. Demorava dois minutos.
As meninas achavam ele uma extravagância incoveniente. Uma afronta minha à inteligência. Eu expliquei que ele tinha um não-sei-quê de anjo torto, uma fraqueza ancorada, que me comovia. Aliás, que me comove. Porque difícil é sobreviver a um sentimento que não murcha.
Hoje, acabou o fôlego. Passam dois, dez, 150 minutos e a minha cabeça fica no lugar. Ou quase no lugar. Porque, mesmo inteira, nunca consigo me desviar dele sem olhar com ternura e, claro, um pouco de saudade.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Monsieur Cassel
sexta-feira, 17 de julho de 2009
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Caê
* "Eu só moraria em duas cidades: Nova York e Madrid"
* "Eu to triste. Mas são coisas íntimas, pessoais. E sobre isso, não se fala"
* "Eu era muito jovem quando escrevi Coração vagabundo"
Essas são frases do nosso Caetano Emanuel Viana Teles Velloso, no filme Coração Vagabundo. Fernando Andrade fez tudo direitinho. Registrou um lado tão buni do tropicalista hipongão. Que delícia ver o Caetanão ali... ouvir ele contar os causos. Aquele ritmo baiano de quem morou - até os 18 anos - em Santo Amaro da Purificação. Sorriso fácil, de graça. Charme natural - sem a menor canastrice. Só podia ser, né gente? Quem escreve “O quereres” não deve mais nada para o mundo. E ainda soma: tem uma pitada de humor . Só erra quando começa a se levar a sério- porque quando brinca de Caetano, é uma delícia. O Almodóvar que disse que ouvir Caetano o deixa de “pelos de punta”. Si, Pedrito, pelos de punta. É que é filho de Oxóssi, o moço. Olha pra beleza do mundo e sabe valorizar tudo que é bonito - por meio das palavras. Fico aqui sempre falando do Francisco e quase nunca do Caetano. Eu sei. São coisas totalmente diferentes e existe espaço para os dois, nos nossos corações. Mas é que, por maior que fosse minha admiração ao Caetano, sempre tive um pouco de ressalva com o lado “provocador” dele. Me cansa. Mas o jeitão “mitificado” do Franciscão na Flip, me cansou um pouco, também. E o Caetanão tava super lá no meio da pipoca ontem. Não teve gritaria, arranca-cabelos e nem crises de fãs. Algumas fotos, uma ou outra tiete, tudo normal. E ele ali. Devagar, disponível, inteiro. O Leãozinho entrando pelos sete buracos das nossas cabeças. Com toda sua presença.
domingo, 12 de julho de 2009
Futuro
* Aprender a fazer bombons como a minha vó Arlete.
* Comprar uma gravura da Tomie.
* Entrevistar o Woody Allen.
* Encontrar aquela carta.
* Pintar minhas próprias unhas.
* Ir para o Machu Picchu.
* Ganhar uma piscadela do Francisco.
* Comer brigadeiro sem culpa.
* Ter uma lambreta amarelinha.
* Abraçar o Obamão.
* Beber sagria com a Nata em Barcelona.
* Waltinho: você não me escapa.
* Aprender a dançar Tango.
* Ganhar uma dedicatória afetuosa.
* Ele, aqui do meu lado.
* Conhecer Israel.
* Ir num show da Tracy Chapman.
* Aprender alemão.
* Plantar tulipas.
* Visitar o Schopen no Canadá.
* Ir para Cuba.
* Aprender a ler as mãos.
* Fazer um documentário.
* Lutar boxe.
* Conhecer uma tribo indígena de perto.
* Voltar para Sevilla.
* Fazer faculdade de psicologia.
* Começar a entender de arquitetura.
* Roubar um elogio inesperado.
* Conhecer o Tibet.
* Perder o medo de andar de bicicleta em sp.
* Ver a Fernanda Montenegro no palco.
* Aprender a fazer comida judaica.
* Morar na Argentina.
* Encontar um mestre intelectual.
* Velejar em Ubatuba.
* Estudar história.
* Visitar uma fábrica de perfume na Provance.
* Segurar o buquê da Cutait no altar.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Paratations - parte I
Paraty estava mais vazia esse ano. Choveu um pouco, é verdade. Mas também faltavam pessoas importantes. E não fui só eu quem notou, não. O mexicano Mario Bellatin já veio me perguntando: “E a Nataly, não virá? Me disseram que ela vinha”. Eu falei pra ele, que era tudo culpa do povo da Cosac , aqueles meninos irremediáveis... vc conhece como eles são, né Nata. Falaram para o escritor doidão que você ia, aí ele ficou todo na expectativa de “conocer esa chica tan llena de cualidades”.
Mas não parou por aí, não. Eu expliquei várias vezes para o Mr. Talease o motivo da sua ausência, que vc morava fora, que era muito caro vir para cá... mas nada contentou o abuelito, ele queria porque queria ver você. Sabe que ele contou que guarda todas as cartas que trocou com a mulher, em 50 anos de casamento É... disse que além das cartas, guarda junto os motivos das discussões e o jeito que se reconciliaram. Fofo, né? Coitada dela, que teve que aguentar as maluquices dele a vida inteira. Se bem que, pelo que me pareceu, ele amaciou essas loucuras com muita doçura.
E por falar em doçura, o Lobo Antunes foi um fofoleto. Eu tava quietinha comendo num restaurante, ele veio e me perguntou se não era eu, a amiga da Nataly, neta de uma grande amiga dele. Ahhhh Nata, ele me contou histórias tão lindas dos tempos em que conhecia sua avó em Portugal. Me deu uma vontade de ir pra lá... e ele disse que receberia a gente numa boa. Que te parece, amiga? Depois que vc voltar da Galícia, passamos pra ver Lobo bom ?
De repente, a gente pode também passar pela França e visitar a doidinha da Sophie Calle. Ela me contou que quer ir pra Índia- você pode dar umas dicas para ela, que está pensando em fazer um dos projetos de arte por lá. Mas só ela, tá? Porque o ex, Gregóire, eu dispenso, muito safado, aquele fulano.
Sedutor por sedutor, preferi o afegão Atiq Rahimi, que olhou com um olhão azul pra mim... bem fundo. Olhos lindos os dele, né Nata? E olha que ele estava ultra aborrecido com a sua falta. Parece que ele te conheceu aquela vez, em Paris, lembra? Mas pode deixar, que eu te defendi tá?
De resto, Paraty segue com aquele cheirinho de serra do mar, que eu sei, você morre de saudade. O céu continua estrelado, as crianças gritam sem parar naquela flipinha e ano vem, não tem desculpa. Queremos vc aqui, viu?
Beijocas
Mazi
sexta-feira, 26 de junho de 2009
O teatro da liberdade
Existem coisas que emocionam a gente. De verdade. Tiram o ar, mostram significado, acontecem. E todos os anos, no Antídoto - que acontece no Itaú Cultural- tem um desses personagens que me arranca um pedaço da alma.
Ontem assisti Adnan Nagnagie contar um pouco do trabalho do "Teatro da Liberdade", que ele desenvolve com adolescentes lá na Palestina. Assistir o vídeo dos sonhos desses jovens, tão genuínos, me deixou em silêncio. Um pouco, por vergonha da minha falta de informação. Outro pouco, por um fio de qualquer coisa que se acendeu nos meus pensamentos.
Take a look
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Suspiro do mundo
Talvez essa carta fique meio grandinha. É que apesar de a gente não se encontrar muito, bem sei que o nosso mundo é movido a afeto. Então um pouquinho a mais de babação de ovo não faz mal a ninguém, certo?
Eram um pouco mais de nove horas quando eu entrei no corredor florido do Jockey. Meu telefone não parava de tocar porque dia 30 de maio é o meu aniversário. Desliguei o infernal aparelhinho depois da ligação mais esperada do dia. E, ainda esmagadinha entre cabecinhas e cabeções curiosos e emocionados , tentei - inutilmente, enxergar com meus singelos 1,55 de altura, a cerimônia. Ver mesmo, não vi. Mas arrepiei quando "carinhoso" começou a tocar. Depois Má, vc apareceu. De vestido romântico, olhos ainda lacrimejantes e o sorrisão na cara. Linda. Não aguentei quando vc abraçou a Kika - que estava do meu lado - e disse com um tom de ' vc tem que fazer isso' : "Ai Kika!!! É muito legal". Aí fiquei aqui, quebrando a minha cabeça, para achar alguma coisa que pudesse traduzir - um nani que fosse- do que estava pairando ali no ar. Lembrei da Lispector, que dizia sobre uma sensação de "suspiro do mundo". Eu adoro essa expressão, não é ótima? Tipo assim: “tava andando na rua, pleno por do sol, quando senti o suspiro do mundo”. Ou então: “aí quando abri meu presente veio aquela sensação de suspiro do mundo’ ou ainda: “aí quando vi a Maria e o Gabriel rindo juntos veio - o suspiro do mundo”. Aquela coisa de preenchimento mesmo. E ó, não fui só eu não, viu? Todos comentaram. A Marininha, coitada - até passou mal, de tanta emoção. Coisa assim, gente, só sendo muito de verdade.
Quando eu fazia teatro, meu diretor sempre me dizia: " se vc se diverte, o público se diverte". Verdade mais pura. Se vcs vissem a carinha das pessoas quando vcs começaram a dançar, fofoletos, "Que maravilha". Rodando no "a girar". Cheios de graça, de charme. Rindo e o riso sendo a música perfeita. E tudo isso, só pra deixar meu beijo carinhoso para vcs. E o desejo de que vcs, encontrem no dia-a-dia, a leveza dos passinhos de dança que vcs improvisaram tão delicadamente naquela pista
beijos
Mazinha
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Do time das pandas
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Gossip

terça-feira, 16 de junho de 2009
em miúdos
terça-feira, 9 de junho de 2009
Ela, Arlete
Essa semana foi a primeira semana que realmente fez frio em sp. É engraçado esse ritual do frio, né? Tirar a meia calça do armário, comprar chazinhos gostosos, colocar a bolsa de água quente na cama pra ficar quentinha - essa aprendi com a Dona Arlete, minha avó. Aliás Nata, vc tinha que ter conhecido a Dona Arlete. Imagina a mãe da minha mãe? Linda de morrer. Quando eu era pequena, uma senhora me parou na rua, em AIURUOCA, cidade dela e disse: "sua avó foi a mulher mais linda das redondezas, não era nem da cidade, era das redondezas, mesmo". Tão linda, que a banda de Aiuruoca fez uma música só pra ela. Eu lembro Nata, direitinho. Da minha avó na janela - BEM estilo Rita do Chico- parada, olhando o povo passar e ouvindo a música dela. Aqueles olhos libaneses e mãos boas pra fazer doce e salgado. Não saía nunca de casa. Com muita insistência, dava uma voltinha na praça, sábado a noite. Mas era uma leoa, a Dona Arlete. Protegia as netas com unhas e dentes - de cachorro bravo, dos meninos cafajestes, das pragas de famílias inimigas, porque vc sabe, né? Cidade pequena é tipo Romeu e Julieta, sempre existem famílias brigadas. Em noites de chuva e "trovoada" mandava desligar tudo da tomada. Medo de dar curto-circuito, é mole? Ficava a família inteira na sala, esperando a chuva passar pra poder assistir o Jornal Nacional. A chave da casa? Só depois dos 18 anos. Eu, como sou a última neta, tive abono e ganhei com 15. Mas as instruções eram bem claras:"Marilia, você entra, dá DUAS voltas na chave e coloca em cima da minha penteadera". E eu, plena flor desabrochando - de férias em Minas, olha o perigo - dizia "Tá bom vó!". Pois nada, fazia direitinho e quando entrava no quarto dela para deixar a chave, ela dizia, acordada: "Vc deu DUAS voltas na chave?". Ah... minha vó. Saudade dela. Que deixava o chá de cidreira da horta, com biscoitinho, em cima do fogão a lenha. Rezava novenas e fazia promessas. Sabe que durante anos, na procissão da semana santa, minha vó foi descalça? Promessa. Se alguém sabe qual? Só Deus. A reza dela era braba mesmo. Quando eu tinha soluço, sabe daqueles que não passa? Ela fazia uma benção com a mão na minha testa e pimba! O soluço ia embora. E quando alguém perdia a carteira em casa, já tinha solução :"Liga pra vovó". E lá de Minas, ela fazia os beregodegos dela e pasme... a carteira aparecia. Ela era leve e cheia de humor. Dormia com uma foto do meu vô pendurada na parede, na linha da cabeça. E quando eu lhe perguntei se ela tinha sido apaixonada por ele, me respondeu sem titubear: "ainda sou, Marilinha". Ele tbm deve ter sido doidinho por ela, Nata. Que foi mãe, avó, esposa, tudo. Que mesmo sendo católica fervorosa, BATEU com um pão, no Padre da cidade - porque ele tinha dito que meu tio era comunista para os militares. Acha que é brincadeira? Não, não é não. Não se pode brincar com uma Dantas Motta. As suas receitas? Ninguém sabe onde foram parar. Ela escondeu - estão juntos com seus segredos.
Tudo isso, Nata, porque faz frio aqui. E vc sabe, o frio daqui não é como o daí. Não tem charme, nem bufandas, nem capuccino. Acho que me deu saudade de Aiuruoca. De cheirinho de mato fresco. E de vc, sempre né? Que é minha amiga mais querida.
Lobby, Mazi
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Tipo Festa Junina
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Apenas o Fim
Ele é peque, mas é bom que só vendo.
Peguei o DVD de 'apenas o fim' esperando um filme buni, afinal de contas o diretor é novinho, já ganhou uma meia-duzia de prêmios com o filme de baixíssimo orçamento e anda arrancando uns bons elogios. Mas tbm não esperava uma coisa tão fofoleta. Acho que eu tinha meio implicância com essa Erika Mader, sei lá. Mulher tem dessas coisas, as vezes implica com uma fulana e não tem quem tire a ideia da cabeça.
Aí tem essa coisa de pauta, né. Vai entrevistar o cara, mas não dá pra ir na cabine porque o filme é bem na hora do fechamento e pimba. Cai o DVD pra assistir em casa. Plena terça-feira. Viu Matheus Souza? Obrigada. O filme é uma graça.
A história é simples. Ela chega e diz pra ele que vai embora. O resto são só “fragmentos de um discurso amoroso” do Barthes. Com uma pitada pop irresistível( pra mim, claro). All Stars que se cruzam na escada, humor buni, trilha sonora fofoleta e as problemáticas da minha geração ( ou será que essas coisinhas do amor independem de geração? ). Ele:um mini woody Allen, ela: Diane Keaton versão carioquinha. Uma declaração de amor ao Rio, a uma certa ingenuidade e a leveza da memória. O filme é inteiro ambientado na Puc do Rio. Mas o Matheus me explicou: "Para usar a câmera da faculdade, durante as férias, não podia sair das depedências da Puc". Ahhhh gente... não é? E sabe... ele falou de patotas, palavras e poemas.
12 de junho nos cinemas. EMBRULHA.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Pra homenagear o mundo
* O canto religioso no Morumbi quando Corinthians ganhou.
* Teresa com menos de 24 horas, apertando os dedos da mão.
* Jantares em cantinas da Augusta.
* O jeitinho do França falar: “já vaiiii minha liiiiinda?”
* E-mails vindo do outro hemisfério.
* A delicadeza da Lu, com cílios que fazem vento.
* O amanhecer na Sapucaí com a Kiru abraçada no celular.
* Saladinha de tomate do genésio.
* Pp cantando Iran.
* Banhos de erva-doce.
* Vinhos brancos no Piratininga.
* Milton cantando “Bailes da Vida”, no alcance da mão.
* Casa nova.
* Dedicatória carinhosas nos livros.
* Creme de Cherry Blossom.
* Hugo e Má sambando no Cidão.
* As janelonas do Santa Cruz.
* Encontros de sopetão, em Paris.
* As risadas dos “jantares-gossip” as quartas.
* Casal dançando gafieira.
* Batom vermelho.
* Banda Glória no Museu da Casa Brasileira.
* Dricoletinha-nha-nha-nha.
* Pôr do sol na Baleia com cheiro de jasmin- ah merece, né?
terça-feira, 26 de maio de 2009
Os olhos turquesa
terça-feira, 19 de maio de 2009
Leu?
Na cabeça de uma passoa panda, frustrar alguém é horrível. Dizer não é um martírio. Agredir então, impensável. Mas o mundo não é feito só de pandas e isso, nós já sabemos. Vira e mexe tem alguma situação, em que uma pessoa normal tiraria de letra, com o simples e clássico “ manda à merda e acabou”, mas nós não conseguimos. Quantas vezes eu já não ouvi que era só dizer isso pra resolver o problema? Mas a lógica de uma panda não funciona no botão “manda à merda e acabou”. Porque cada coisinha, sentimento, ação e reação, é como uma filigrana. Cheia de complexidades
Explico.
Pensamentos que acontecem, quando a gente pensa em ativar o “manda à merda e acabou”:
1- Se eu fizer isso, eu perco a razão.
2- Não vou me rebaixar no mesmo nível da pessoa.
3- Não sei proferir essas palavras sem estar completamente fora de mim.
4- Pra que causar mais ?
5- A pessoa vai perceber que errou, não precisa avacalhar.
6 - Tudo que falamos, volta pra nós, no mesmo grau.
Viu como não é tão simples? Experimenta passar um dia na pele de uma panda pra ver se é gostoso. Depois, não é só quando somos agredidos, que temos vontade de ativar o “manda à merda e acabou”.
Explico de novo.
Há momentos da vida em que simplesmente a gente tem que dizer não. Mas não consegue. Aí chega aquele seu amigo bem resolvido e fala: “ah querida, é simpls, manda à merda e acabou’. Esses momentos são quando:
1- de repente, por qualquer motivo, vc não quer convidar alguém para o seu aniversário. Mas vc pensa: “ ah... fica chato não chamar ciclano, se eu chamar fulano”.
2- por alguma razão, uma pessoa que “drena” vc, te explora, te aluga 40 horas semanais com os problemas , do nada, resolve te cobrar qualquer coisa.
3- alguém se sente dono de vc.
4- vc se sente (inexplicavelmente) na obrigação de ir no aniversário, lançamento, formatura, casamento de alguém que nunca foi no seus eventos.
É, minha gente, c´ est ne pas facil. Mas a gente vai se excercitar. Vou mandar fazer um adesivo no meu carro: “ Panda, aprenda. Mande à merda e acabou”.
Lógico... sempre com o lugarzão comum no coração - "HAY QUE ENDURECER-SE PERO SIN PERDER LA TERNURA, JAMÁS"
terça-feira, 12 de maio de 2009
O choro de Francisco
Já me imaginei na cena, lógico.
Nós dois, no Canecão. Caetano cantando algo do Zii e Zie. E eu sentada do lado do Chico, tentaria pegar na mão dele enquanto ele discretamente se esquivaria dizendo: “Linda, aqui não. Está cheio de fotógrafos”. Eu ficaria emburrada e já começaria a pensar: “Tá vendo, Marilia? Por que foi se envolver com esse cara? Isso que dá querer ficar com homem mais velho, inteligente, desejado. Agora não pode nem segurar na mão enquanto o Caê embala uma música romântica”. Mas logo o Caetano começaria com uma das suas músicas animadinhas e eu, tomada de fúria, iria dançar lá na frente. Só de birra, colocaria as mãos pro alto e com um leve reboladinho, cantaria bem alto: “eta, eta, eta, eta... é a lua , é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta, eta”. O Chico não seria nem bobo de ceder à minha provocação - afinal ele não é um moleque cheio de cinismo, mas o Chico né minha gente? - e continuaria ali, na mesa, concentrado, introspectivo. Depois de perceber que de nada adiantaria minhas súplicas na beira do palco, eu voltaria pra mesa. Um pouco ofegante e já envergonhada do meu papel infantil. E ele lá, estático. Então, depois de um grande silêncio, Caetano faria uma daquelas introduções lindas - que só ele sabe fazer ... e começaria bem delicadamente : “Eu vi um menino correndo/ Eu vi o tempo brincando ao redor/ do caminho daquele menino". Pouco a pouco, os olhinhos verdes do poeta começariam a baixar e o corpo dele a ficaria encolhido na cadeira. Um gole na cerveja ( ou seria whisky? O que será que bebe o Chico?) e uma tosse sem som. E a música on and on: “eu pus os meus pés no riacho/ E acho que nunca os tirei/ O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei". Ele daria uma piscada mais longa - dessas que a gente dá quando tem uma nostalgia. E ali mesmo eu flagraria... uma lagrimita. Pequena, mas doída, saindo dos olhos mareados do Franciscão, bem no agudo do Caetano : “Por isso uma força, me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha". E aí... aí.... ele deixaria eu segurar na mão dele. Forte. E o Caetano sorriria, daquele jeito que ele sorri quando canta:" Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista. O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece/ Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são". Eu pensaria "Nossa. Quanta angústia, que coisa!". E devagar, enquanto ele soltaria minha mão, daria o último sussurro choroso, junto com a música : "É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão". E eu falaria: "Agora chega de choro Amor, vamos para o samba". E ele obediente, já totalmente rendido, seguraria minha mão, em meio a todos os flashes.
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Depois que eu cruzei a catraca da estação les sablon fiquei muda. Não tinha nada que fizesse eu me sentir melhor. Nem o francesão que sentou do meu lado no trem... Eu tava toda atrapalhada tentando encaixar a mala quando aquele “Zidane” pegou, num rompante, o trambolho da minha mão e fez - milagrosamente- caber bem lá no alto. Depois, chorosa, eu olhava pela janela, até que ele me perguntou: “Pardon madame, mais vous être triste?”. Tá, até arranho francês, mas como eu ia conseguir explicar pra ele que, sim eu estava triste. Que não, eu não queria voltar para casa. Que sim, eu ia ficar com uma coisa que eles, franceses, não entendem - saudade. E não, nem que ele me abraçasse muito forte eu me sentiria melhor. Dei um sorrisinho tímido e disse: “ não, é só o pólen que me faz lacrimejar”. Ele não acreditou, mas foi cumplice e fingiu bem. Depois me convidou pra tomar um café no outro vagão, mas eu não aceitei. Ah gente, sabe? Me deixa. E no fim da viagem, quando me ajudou a recolher a mala, falou : “eu também odeio despedidas”. Eu ri baixinho e dei uma bitoca -merecida- na bochecha dele, que ficou sem graça, buni. Mas nem esse mini “rendez vous” desatou o nó da minha garganta. Só compartilhado agora com vcs minhas queridas.
Beijo do lado do atlântico.
terça-feira, 5 de maio de 2009
Em NY
sexta-feira, 24 de abril de 2009
E elas foram para Paris
Sabe, não coube na gente. Emoções afloradas por uma caixinha de música só porque tocava La vie en rose. Oito horas experimentando todos os cremes de corpo da Provance e mexendo em tudo, quando um aviso bem grande dizia: “ne touchez pas”. Ok, a gente é brasileira, minha gente. E dá-lhe pão, panine, crepe, croissant. E a Dricoleta: “ To em silêncio porque tá difícil absorver tudo isso”. É, difícil mesmo. Andar pra cima e para baixo, flertar com o violinista que toca no metrô, se perder nos cacarecos do Monoprix. Se atrapalhar nos horários porque é muito bom acordar sem compromisso, mesmo em Paris. E a voz soa séria: “ O museu vai fechar em 15 minutos”. Mais 15 minutos pra ver o impressionismo inteiro? Vai, corre, passa correndo pelo Van Gogh, Monet, Renoir. Ih... ficou faltando o Manet.... E a frase repetida da viagem VOU TER QUE VOLTAR AQUI. E o pobre do Charlie aguentando a macacada na casa dele.
A cidade da luz com um sorrisão para gente. Não aguentei a Fe, toda charmosa, no meio de dois músicos tocando canto de ossanha, dizendo: "Ai, vc acha que eu tenho que sair daqui? tá tão bom...". Ou a Nata, me explicando na baldeação gigantosa do Chatlet, em plena meia noite, num papo profundo: "Sabe o que é Má? O que a gente busca na vida, na verdade, são encontros". E a Pizoca, plena alegria matinal: "vamos fazer bolinho de gente?". Coisas de amigas. Só quem tem esse "imenso monolito", como diria o Gil, sabe do que eu to falando. Dores musculares na perna de tanto andar. Trocas de cachecol, pequenos gracejos compartilhados, 59 horas na livraria shakespeare and Co. Tudo com um sabor esquisito de intesidade. E cada uma impressionada com uma cor de tulipa de diferente, com ventinho que levou embora todos os nossos versos.
É a primavera em Paris.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Carta de mãe
Te esperamos com carinho.
Beijo da MOOOOOMY
segunda-feira, 13 de abril de 2009
LYON
Minha recepção foi digna de princesa. Mariana comprou uma gama de iogurtes franceses só para me agradar. Depois andamos pelo quartier dela, e por ser páscoa não tinha viva alma na rua, só um silêncio estranho e não menos bonito, para quem vive em SP. Compramos tomates e flores para enfeitar a casa. Até agora a viagem tem sido quase que gastronômica. Ontem quando fomos à campaigne experimentamos 4 tipos de vinho na mesma refeição. O primeiro - branco e seco- para a entrada, outro mais doce, para segunda entrada; o terceiro com o prato principal e o último com os queijos. Foi na campaigne , aliás, que vi pela primeira vez, uma flor de pessegueiro. É uma florzinha branca, grudada no tronco e nos galhos, bem cheirosa. E tem espalhada por todos os lados. Fiquei hipnotizada pela paisagem do campo francês, tá, meio bobo, mas a gente sente essas coisas em viagem, mesmo. Estou lá, quietinha, olhando os cavalos, e os gramados com florzinhas amarelas e, de repente, vem aquele pensamento: "Eu vou morar aqui. Juro que largo tudo : a vila madalena, a vida glamurosa de reporter, o cinema de domingo a noite, a saladinha do la pero, a benedito calixto, meus amigos, tudo, tudo. Vou ficar nessa casa bucólica, com as crianças subindo em árvores, esse cheiro de flor de pessegueiro e essa paz de espirito". E todo esse pensamento fácil e até um pouco infantil, voa longe quando eu lembro que estamos na primavera e, por isso, há cores e vida. Mas que a realidade é outra: faz frio, muito frio e frio durante 8 meses. Tá bom, eu volto pra Vila Madalena, então.
Meu francês está meio enferrujado, mas depois de algumas, muitas tacinhas de vinho, acredito que é minha lingua materna e saio falando sem e menor vergonha.
E quinta ... quinta é dia de Paris.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Sobre Les petits plaisirs
... aí, como eu adoro esse filme porque é o filme mais panda do universo e a Amelie é a masterpanda - apesar de ser francesa e vcs sabem, panda da França é outro lance. Mas como eu dizia, eu fiquei pensando nessa coisa dos “pequenos prazeres”. Cada um tem os seus, alguns são unânimes, outros nascem de lembranças e alguns podem ser considerados excentricidades, esquisitices. Lembro que na Puc, tínhamos um professor bem mala - professor que coloca alunos adultos, em roda, para falar de coisas pessoais ou "rituais" - é mala. Mas aí ouvi a história dos pequenos rituais dos meus colegas de classe e fiquei apavorada. Uma das meninas disse que fazia 4 anos que ela acordava e tomava café da manhã, impreterivelmente, escutando "Welcome to the Jungle", do Guns N' Roses. Ah gente, sabe? Segura um poquinho. Mas enfim, como todo mundo tem seu lado buni e seu lado mini-estrange, resolvi listar aqui meus pequenos prazeres. E queria também saber o de vcs. Hum... o quê? Curiosa, eu? Imagina... são só mumunhas.
Top 10 dos pequenos prazeres à la Amélie by Mazolinha
* O primeiro passo dentro de um aeroporto antes de uma big viagem.
* Banho com velinha acesa.
* Experimentar perfumes em lojas de departamentos.
* Cheirinho de brigadeiro de panela.
* Dormir, dormir e dormir.
* O primeiro cachecol do ano.
* A sensação de conseguir abrir latas, vinhos, e potes - isso é pra quem mora sozinha.
* Andar de bicicleta na praia.
* Morder a bochecha da Teresa.
* Abraço de panda.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Salve João Cabral
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar fora
da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando
ela é esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão de uma vida severina.
terça-feira, 31 de março de 2009
Então tá, então
quinta-feira, 26 de março de 2009
Nunca mais será a mesma
Estava aqui pensando com meus botões. Paris nunca mais será a mesma. Já pensou a gente lá? Me dá dó de pensar nos franceses com aquela melancolia sartriana, perto da nossa brasilidade nagô, né? Eles andando pelos Jardins de Luxemburgo, fumando loucamente pensando: “ merde! je suis fatigué de survivre”. Enquanto nós cinco vamos estar maluquetes, loucas pra tomar uma tacinha e perambular pelas ruelas do 5 éme. Olha, já avisei o Chico Buarque que a gente vai. Mandei um e-mail, dizendo: “Chiquito, acredita que nós vamos pousar em Paris ? Pode tratar de levar a mulherada para experimentar aquele sorbet de citron que vc adora”. Ele ainda não respondeu, mas certamente vai levar a gente pra conhecer algum cantinho especial.
Mas Nata, me promete uma coisa? Vamos andar de metrô e cantar “Pigalle” ? E atirar pedrinhas no Canal Saint-Martin como Amélie Poulain? E parar para ver algum filme antigo naqueles cineminhas do século passado?
Sabe quem também se empolgou com a ideia? A Juliette Binoche. Menina, ela grudou em mim. Desde que eu fiz uma mini entrevista com ela por conta do ano da França no Brasil, ela não larga do meu pé! Já falei que a gente vai visitar ela, desde que ela conte algum segredo pra gente. Imagina que legal saber algum segredo da Juliette Binoche ? Vou perguntar pra ela se o Jonnhy Deep beija bem. Porque sou humana e mulher e tenho direito de saber isso.Mas até lá, vc me manda notícias da Índia? Me conta dos bicos dos corvos de Chennai e me ensina a fazer aquela dancinha que a Juliana Paes faz na novela?
Lobby so much.
à bientôt,
Mazi
terça-feira, 24 de março de 2009
MONOTEMA: agora é Paris até a viagem
... aí a gente ia adiando os programas turísticos mais óbvios. Optamos por conhecer dois museus diferentes, a passar o dia vagando por ruelas e livrarias da margem esquerda. A margem direita era muito luxuosa, mas muito fria tbm. Faltava gente, cantinhos, coisitas charmosas. Aí depois de alguns meses ali, bateu aquela coisa: ‘ puts, todo esse tempo aqui e nem fomos para margem direita, nem no arco do triunfo!’. Aproveitamos o impulso da culpa turística e o fato de que tinha uma expo interessante no Palácio de La Découverte, no comecinho da Champs Elysées. Fazia um frio glacial e nos debandamos pro lado de lá.
Quando saímos da exposição já estava escuro. Aí euzinha olhei para aquela avenida toda iluminada. Luzes crescentes até chegar ao arco do Triunfo. “Aham, tá, esse é o momento de fingir que vc é a Deneuve”, pensei eu. Aí pintou aquele sentimento que rola em algumas viagens. Alguma coisa - inexplicável - preencheu a Marilita de uma forma inexplicável também. Entramos numa loja chiquérrrrrrrrrrrrrrima de óculos escuros. Cada óculos, a bagatela de uma casa. Mas tudo bem: “hoje eu sou a Catherine Deneuve, vou provar todos”. Provamos todos os tamanhos, cores de lentes e fiz pose de atriz francesa naquele espelhão. Puro luxo na avenida mais visitada do mundo. Lógico que deu uma pane no sistema e no final da noite eu tinha certeza que eu era, SIM, a Deneuve e que eu podia, SIM, gastar 15 euros num bombom inteiro desenhado, feito filigrana. Afinal, euestouemparisepossotudoqueeuqueroeolhaesselugar! Loucura curada com pés cansados e vinho barato da casa - de volta à margem esquerda.
quinta-feira, 19 de março de 2009
quarta-feira, 18 de março de 2009
terça-feira, 17 de março de 2009
A tal da sustentabilidade
-De uma anestesia.
-Geral?
-Não, local mesmo?
-Onde?
-No coração.
-Qual deles?
-O doente.
-O esquerdo?
-Não, aquele ali, murchinho...
-Mas se tá murchinho, pra que anestesiar?
-Pra não sentir dor na remoção.
-Vc vai remover esse coração?
-Mas porque? ele tem tanta história, tanta lembrança, é muita coisa pra tirar daí
-Justamente. Porque agora vem um novinho. Mas limpinho do que fone de ipod novo. Parece que tem uma blindagem, uma membrana à prova de bala
-Ah é?
-E onde vc conseguiu esse?
-Hum. É raro, sabe? Esse eu ganhei, na verdade. Minha vó já tinha encomendado um pra mim.
-Ah pôxa, eu tbm quero um coração novo.
-É... não é pra qualquer um, não.
-Parece que a cirurgia de remoção dói muito. Mais do que parto.
-E daí, eu aguento a dor ?
-Aguenta? Até parece. Não existe dor maior do que abrir mão de um coraçãozinho marcado.
-Sério?
-É o que dizem por aí...
-Puxa... também queria uma renovação.
-Olha, parece que terapia dói bem menos, e vc aprende a reciclar o coração. E vc sabe, nesse mundo sustentável de hoje, não é bom desperdiçar coração por aí...
Paris
segunda-feira, 9 de março de 2009
Rapidinhas do final de semana
2- “Móveis Coloniais de Acaju são o Beirut brasileiro” - frase do primo que diz tudo. Melhor show.
3- Amigos antigos ás vezes são chatos.
4 - “Wagner Moura não é fofo, é poderoso” - frase da Nilds que resume a dançadinha que levou a mulherada à loucura no show no sábado.
5- Roberto Bolaño rocks.
6 - Sobrinha bochechuda é algo que todo mundo merece ter.
7 - Revelação atrasada: tecla SAP para assistir filmes românticos no TNT.
8 - 25 mulheres levando um baile em termos de “como se dar bem num relacionamento” de uma Drag Queen muito simpática, em um chá de lingerie. Não, não é ficção, isso aconteceu e foi divertidíssimo.
9 - Ronaldão - não podia ficar de fora, né?
quarta-feira, 4 de março de 2009
Your turn
Mumunhas
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Sobre dirigir sem carta
Chapter I - a batida policial
-- Mas nada nunca aconteceu comigo sem carta de motorista, Marilia. Esse país é impunidade pura.
-- Eu sei, PP. Mas sei lá né?
Cinco minutos e um farol vermelho furado depois...
-- Ai Mazola, a polícia.
Tornando a longa história curta. Ele com a carta vencida em 2005. Eu com a carta vencida em 2007. 2 celulares sem bateria. Nenhum orelhão funcionando decentemente na cidade do Guarujá.
Chapter II - o guincho.
-- Fica aí que eu vou tentar ligar para alguém de algum lugar, me disse o PP.
De repente, enquanto aqueles dois policiais anotam todas as informações do carro... chega um guincho.
-- Será que a senhora pode retirar seus pertences do carro que nós vamos guinchar o veículo- me disse aquele cara fardado.
-- Mas como assim? O Sr. Policial vê que estou aqui esperando e não me diz nada, vai logo chamando um guincho...
Tornando o segundo capitulo curto... quando percebi que de nada adiantava dialogar com aqueles ignorantes sobre o papel público da polícia, sobre a falta de respeito deles comigo, já que eu tbm estava presente no carro e ninguém me informou de nada, eu comecei a chorar. É chorar mesmo... espernear. Olhava para o infinito... chorava, disse chorando que eu precisava trabalhar na segunda, que como eles tinham coragem de fazer aquilo, que era abuuuuusooooo de poder, PORQUE VCS ESTÃO FAZENDO ISSO COMIGO???? Até que o policial André se sensibilizou: " oh D. Marilia, não chora assim que eu fico com peso na consciência. Eu empresto meu celular se vc prometer que vai parar de chorar". Mas a sensibilidade deles não adiantou porque meu carro foi embora com o guincho e o guincheiro, já meio de ladinho e contradizendo os policiais, disse: retirar o carro... só amanhã de manhã. - acho sussa mesmo.
Chapter III - Uma noite no Guarujá
Dizem que o Guarujá já foi a menina dos olhos do litoral paulista. Mas é impossível acreditar. PESADELO. Poluído, perigoso e deprê. Isso sem contar os donos de "pousada" bêbados. Enquanto o PP negociava com o taxista o trâmite do dia seguinte, o dono da 'pousada' me dizia: "é, tenho que tomar umas pra conseguir dormir, entendeu?". Bem legal, mesmo, moço. Agora que eu vou me sentir segura nesse negócio que vc chama de 'pousada'.
Chapter IV - A liberação do carro.
Depois de apelar para o choro algumas vezes e conquistar a simpatia dos guincheiros e guardas do pátio de carros, percebemos que o buraco era muito mais embaixo. Não tava nada sussa, ali. Envolvia procuração, cartório, gente descer de SP para resgatar os dois perdidos num Guarujá sujo...
Bom - se o que não tem solução, solucionado está -Eu e PP ficamos em uma salinha, plantados do lado do orelhão, embaixo de um ventilador durante umas 5 horas. Foram mais ou menos 7 programas do tipo "globo esporte" diferentes, na TV da salinha. Algumas broncas vindas da metrópole: "como vc viaja sem carta e sem celular, Marilia? " e um ou outro alento vindo dos seres humanos que vagavam por ali e viam nossas carinhas desesperadas. Eu, depois de ver 8767565 vezes os mesmos lances do jogo Corinthians e SP, já estava decidindo se o Tulio e o André Dias tinham simulado a falta no jogo de domingo - meninas, olha a que nível de desespero eu cheguei. Já o PP começou até atender o telefone do Guincho com uma precisão e profissionalismo que nossos amigos guincheiros embriagados não tinham.
Chapter V - Ah... a fraternidade
Depois de meu irmão lindo resolver os problemas burocráticos e o Chuchuzinho do irmão do PP ir hasta el Guarujá nos salvar... ainda tivemos que depender da boa vontade daqueles que trabalham no serviço publico - vcs podem imaginar, né? Debaixo de um sol de rachar a moleira e agüentado a grosseria alheia. Mas conseguimos resolver o imbróglio.
Novela terminada, Luiz Melodia no carro e um silêncio de quem não tinha energia pra falar mais nada, chegamos em SP, as 4 da tarde.
Isso é para aprender a lição, viu crianças?
Ps: Beijo especial no Fe, meu irmão lindo que ajudou a gente com boa vontade e rapidez e no PP por me agüentar em momentos de mulherice e histeriquice aguda.