quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Estudando a maluquice e doçura de TOM ZÉ


Natalinda minha querida,
Ontem fui entrevistar o Tom Zé. 72 anos, uma doçura incomensurável e lelé da cuca. Coloca comida para os passarinhos na janela e tem uma coleção de cadeiras de balanço: "mas na verdade só gosto de sentar em banquinhos". Uma figura maravilhosa. Pensamento completamente não-linear, fala de modernismo, poesia concreta e linguística. Elogiou meus olhos e disse que estava "pegando na mão da música", como num namoro. " E tem melhor coisa do que essa fase de pegar na mão?" Me serviu um cafézinho e durante uma hora e meia de entrevista, ele ligou pra Neusa (a esposa) umas sete vezes. "Benzinho, como chama o rapaz que fez a capa do DVD mesmo? Benzinho, como chama aquele cantor carioca?Benzinho... como chama aquela jornalista lindinha mesmo? ah... é : NATALY". Ele me disse que aprendeu a gostar de jornalistas por sua causa, sabia? Aí contei pra ele que vc tava ótima, morando em BCN e que ia começar um curso de espanhol. "Eita! Menina arretada essa, não? Não pára num lugar, oxe...". Contei pra ele a história da banda do Moreno Veloso e da frieza dos catalães, sabe o que ele me disse: "É... tem homem que é uma merda mesmo, brasileiro, catalão, baiano, é tudo a mesma coisa". Eu ri e ele riu tbm. Depois a gente foi alimentar os passarinhos e ele tocou piano pra mim. Me disse assim: "Quando eu encontrar a Nataly lá em Santiago de Compostela vou tocar essa música pra ela: menina amanhã de manhã quando a gente acordar a felicidade vai desabar sobre os homens...". Eu fiz ele me prometer que vai me levar junto. É que o que vale na vida, segundo o tropicalista, são os nossos afetos. E lógico, a saudade que a gente tem deles.
Querida, loby you.
Beijo no coração "polissemiótico".
Mazi

Neruda


Sólo esta flor, sólo estas soledades marinas y tú, alegre, y simple como rosa de la tierra.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A mágoa do teu desamor me deixava paralisada. Mas quando vc foi embora e entre nós, mel e sol. Um barco e partituras. Rios de saudade e algumas tardes sem tempo. Minha intesidade e meu medo. Sobrou um pouco de insensatez, baú de espantos e memórias. Quiçá algum lírio, caminhos moldados pelos seus pés. Ah sim... as ameaças de abandono, você trançando meu desamparo. Um choro de meiguice. Você fogo e eu a lenha.

Caê



Chegou sem correr

Bem devagar

Amor velho que se perde

Sai correndo para outro ninho

Amor novo que se ganha

Vem sem pressa, vem mansinho

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Que Carla Bruni o quê!

Já ouviram falar de uma cantora que chama Barbara? Ela é francesa e quem me apresentou foi minha mãe. Ela é meio coisa de mãe mesmo. Não porque é de outra época, mas porque tem uma candura que só mãe tem. Eu adoro ouvi-lá no carro, de madrugada. Ou a noitinha, em casa. Ela tem aquela melancolia própia dos franceses – uma tristeza elegante. Eu acho lindo. Bom, isso tudo pra falar que ela tem uma música que chama La Dame Brune. A tradução seria “A dama de preto”. A música é um dueto, entre ela e um escritor. A minha estrofe preferida é :

Je suis la longue dame brune de ta pensée.Chante encore au clair de la lune, je viens vers toi.A travers les monts et les dunes, j'entends ta voix.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Leminski


Me ensina
A sofrer sem ser visto
A gozar em silencio
O meu próprio passar
Nunca duas vezes
No mesmo lugar

Ines Pedrosa

Mas a mais forte recordação daquela noite é ainda a dos teus olhos inesperasamente fascinados por mim. Eu sabia o caminho do lago encharcada e aturdida, e tu viraste a cabeça e ficaste como uma estátua inacabada , a olhar pra mim. Esqueceste-te da pessoa que tinhas diante de ti e avançaste, flutuando na minha direção. Paraste a um metro de mim, e ficaste a derramar o lume lento do teu olhar sobre meu corpo. Vi a nossa vida inteira, passada e futura, desfilando em espiral à nossa volta, como se o universo terminasse ali. Então disseste: “ Tanta beleza dá vontade de morrer”.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Características de uma Jornalista I

Primeiro: A CURIOSIDADE 24 HORAS


-- Mas o que é exatamente "contensão"?
-- É assim, quando vamos construir um prédio temos que checar se os prédios do lado tem dois andares de garagem subterrânea.
-- Por que?
-- Porque se tiverem a gente só precisa cavar, certo? Se não tiverem temos que fazer uma "contensão", uma parede especial que impede o prédio de cair.
-- hummmm entendi. Mas... dá pra repetir de novo, o que é mesmo "contensão"?

Segundo: TUDO É FONTE DE CONHECIMENTO


-- Os israelenses são meio brutos
-- Jura? Eu não sabia, por que?
-- É verdade, eles têm até o apelido de SABRA.
-- O que é sabra?
-- É uma fruta de Israel que é azeda por fora e doce por dentro.
-- Sabra... hum... me parece interessante.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carta de Mãe XI

Dá prá entender que o Homem fez essa cidade? Veneza... Nunca entendi como ela se equilibra no meio das aguas.Foi aí, numa pracinha, que tomei o melhor café da minhavida. Sabe quando eu encontrarei esse café novamente? NEVER!! Sua voz estava otima e imagino como voces estãodeslumbradas. Aproveitem e SE CUIDEM, porque ai tem muito ladrão. Tem lindas máscaras de teatro, miniaturas da Comedia Del Arte, brinquinhos e badulaques mil alem da Ponte dos Suspiros!! Suspirem e vivam. Beijos da MOOOOMY.
Zum de besouro, imã. Passarinho na mão, pedra de atiradeira

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

MIJU


Meio judia – Meio mineira

Quando pequena, na escola, tive que preencher um formulário sobre a religião dos meus pais. No campo “pai” escrevi “judeu”. No campo “mãe” escrevi “mineira”. O caso é motivo de piada na minha casa até hoje. Posteriormente fui compreender que ser mineiro é quase uma religião mesmo, e que judeu é uma identidade cultural, independente do local de origem. O fato é que ter uma mãe mineira e um pai judeu é uma combinação rica e ao mesmo tempo bem esquisita. Por exemplo, na minha casa temos todas as festividades, natal, paissach, sexta-feira da paixão, rosh-hashaná e assim por diante. Minha mãe, vive dizendo provérbios que aprendeu em Minas. Meu pai, expressões em ídische.
No ano novo judaico, minha tia Léa, costuma dizer que ser judeu é uma escolha. Cheia de graça, ela prepara na cozinha o peixe típico, tudo com bastante raiz forte “para lembrar o tempo da escravidão do povo judeu”. Depois molha-se a maçã no mel para que o ano que chega, seja doce. Na hora do brinde a família toda diz “Shana- tová”. Feliz ano novo. Já Minas é recato, é renda nas janelas, barulho dos paços na procissão de Corpus Chisti e cheiro do pão de queijo recém saído do forno. Quando andamos na rua, as pessoas perguntam cheias de curiosidade: “fiin, ce é fi de quem”. Minha avó Arlete costumava deixar um chá de cidreira, colhido na horta, junto com uma rosquinha, na cozinha. Os netos no café da manhã, conversavam a beira do forgão a lenha, pra se aquecer do frio das montanhas mantiqueiras. Os doces, na mesa. De abóbora, de figo, de batata doce. Todos sempre discretos. As netas precisam ser “moças de família”.
Conviver com as duas culturas me dispertou uma grande curiosidade e conversando com outras pessoas que também são filhos de casais mistos, pude notar algumas características em comum dessa identidade curiosa “meio judia –meio mineira”.
Ser meio judia- meio mineira é “passar duas vezes a chave na porta”. É rezar o pai-nosso e sempre ser um pouco desconfiado. É se comover com os filmes do holocausto e chorar assistindo “O violinista no telhado”. Ser meio judia-meio mineira é falar pouco e ouvir, muito. É dançar “Hava Nagila” e achar que casamento judeu é a mais linda das cerimônias. É adorar queijo branco e guefilte fish. É aprender com uma avó a fazer biscoitos, ouvindo ela contar as histórias de interior e com a outra, a fazer varenique escutando-a cantalorar músicas em ídiche. Ser meio-judia, meio-mineira é se sentir mineira quando lê o “Grande sertão : Veredas” e judia quando vê um quadro do Chagall.

Mas ambos, judeus e mineiros, mantêm um ar de nostalgia, têm um ditado na ponta da língua e muito afeto. Têm fé e sentem despertar um tempo de amanhecer da vida. Ser meio judia- meio mineira é misturar as origens e tirar a poesia que existe em cada uma delas, é exatamente isso: acreditar num tempo de amanhecer da vida. “Shalon” e “benção”.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Formatura

Sapato de salto na mão.
Pés no chão ou no ar.
Chuva de prata.
E eu... parapapapá ... gostava tanto de você.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Pérolas de um carnaval no RJ


"A paulixtada não é poca merrrrrda náaaao"
"Não é banheiro, é privacidade" -- Pedreiro na porta da obra que abrigou meninas desesperadamente apertadas.
"Cara, vc tá boladona? Quem cruza ox braçux não agrada papai do céu não"
" PORRA! Olha esse visual " "Bonito né?" " PORRA! Bonito sou eu, PORRA".
" me larrrga PORRA"
"Tchiamu cara"
" Ataulfo de paiva? conheço não"
"que comê o quê... o bloco tá bombándo aqui"

Faltou alguma hermanita?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Caminhão de mudança -- parte II

Esquecer para sempre.
Noites de ciúme. O choro de saudade na mesa do Almanara quando ele foi embora. Todos os telefonemas falsos. Echar al viento las corrientes del mal. Aquilo que impede de ver, madrugadas de insônia, falta de grana, carro quebrado. Maquiagem borrada no fim de festa ruim. Ressaca de bebida e de coração. Esquecer aquilo que se fala demais. Esquecer o guardar para si por medo e falta de coragem. Deixar para tras grandes pesadelos de pequenos cochilos. Minutos que parecem horas, horas que parecem dias. Esquecer a bronca dele, a conversa de demissão. O dia em que ela chegou de novo bufando na mesa. A tensão de não ter pra dar, de que não ter tempo suficiente. O medo da frustração, cada máscara ruim. A sensação de saber que ele estava mentindo e ainda assim não conseguir reagir. Horas na fila da PUC, conversas difíceis com pais, todos os telemarketings, a falta de guarda-chuva bem no meio de uma tempestade. Jogar fora os papéis que prendem a uma história que não diz mais nada, fechar a conta do banco que não se usa mais. Esquecer o sentimento de impotência, de falta de escolha. Todos nós da madeira, a música que não tocou, o convite que não foi aceito. Uma ligação errada numa madrugada errada. Esquecer o 'não" grosseiro, a ofensa gratuita no trânsito, manhãs corridas, provas sem nenhuma preparação. Esquecer o olhar de repreensão e o sentimento de inferioridade. Ele saindo com a austeridade de quem não passou uma noite junto. Esquecer as traições, todas. Feitas e recebidas. Esquecer ela inventando histórias mirabolantes pra dizer que não. Esquecer do aniversário ruim, dia mais frio do ano, todos os erros irreparáveis. Esquecer o que não volta, o que está fechado e não tem mais jeito. Esquecer as contas atrasadas, uma chave largada num canto do mundo. Memórias de uma menina má. Inconviniências, mal humor e todas as TPMs. Esquecer quem foi e não deixou nada de bom. E preparar... porque agora vai.