sábado, 14 de novembro de 2009

Às vezes eu sonho e é sempre o mesmo sonho. Eu ando por um bairro que parece os invalides, em Paris. Só parece, não é. Meu quintal tem cheiro de Lavanda. E a minha casa é um pouco bagunçada. Mas de uma desordem gostosa. Emcima da geladeira fica um bule vermelho, antigo. Herança das férias em Aiuruoca com minha avó Arlete. E no meu sonho tem aquela luzinha especial, sabe? Você sabe de qual luz eu falo. Aquela meio douradinha que faz uma sombra suave. E não há papéis. Contas, multas, burocracias. Os únicos papéis são os dos bilhetes passados por baixo da porta. As minhas janelas são meio velhas. Custam a fechar e abrir. O ramo de pimenta fica na entrada da cozinha. É um ninho. E eu ando pela vizinhança. Nos cantinhos, memórias saborosas do Brasil : artesanatos de uma viagem para o interior de Pernambuco, farinha de fubá, uma foto do pé da Teresa. Os remédios ficam numa lata antiga, com cara do século passado e o meu vizinho assobia toda vez que me vê: "Cristo redentor, braços abertos sobre a Guanabara...". E eu estou tranquila. Nem muito nem pouco. Calma, só. Com um pouco de saudade, mas calma.
Just how it should be.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Luciana e Vitorio

Ela foi para Buenos Aires com o coração “despetalado” (vocês também cantavam ‘despetalado’ na música O cravo brigou com a rosa? ). Foi para o que elas chamavam de “ a disney das mulheres adultas”. Não é sempre em uma situação dessa que o final da história é feliz. Mulher quando tá triste de amor, custa a sacudir a poeira.
Pois foi. Angustiada, machucada e seeking for love. Os argentinos - nós sabemos - não decepcionam. Mas não foi por um porteño que ela se enamoró, sino por un italiano de Milano. A "morena de angola", que mexe o chocalho na canela, um e setenta e pouco de altura, sorriso que reluz a 8 quilômetros e um charme que me desculpem, só as tupiniquins têm - adentrou uma festinha, no coração da Argentina. Era dia de caminhas longas, de turismo, de lembranças do antigo amor, de cansaço, enfim. Enquanto um rapaz simpático sinalizou que queria conhecer melhor a moçoila, ela fez que não viu. Gostou mesmo de um diferente bigode que, parado na multidão, fez graça para ela.
Foi assim que a Luciana e o Vitorio se conheceram. E alimentam uma paixão dolorida pela distância. E tudo bem. O que é o amor senão perder a rima de lé com cré ?
Ele é amante à moda antiga: abre a porta do carro, segura a bolsa dela, faz todas suas vontades. Ele, gringo louco por caipirinhas de maracujá, deixa ela doida quando vai para a fazenda e a faz andar “dji cavalo”. Ela, cor de jambo, carinhosa é cheia de mumunhas. Sente ternura quando ele fala um português com sotaque carregado. Ri das coisas “afascinaaantes” que ele conta. Chama ele de “Vitto” e leva seu carcamano para cima e para baixo nesse Brasil de Meu Deus.
E estão eles, na mesa do Genial. Vitorio gesticula grande como os italianos dos filmes de Fellini. Pede um “galeto a passarino”, grita pra ela “mi amooor” e faz a exigência : “quero bailar samba”. Ela ri e corrige, delicadamente, as concordâncias verbais dele. Amor de inflamar tendões, de desligar o celular, de se perder nas praias de picinguaba.
Perto disso, atravessar os litorais com doçuras e sussurros de berimbau é só miragem.