segunda-feira, 30 de junho de 2008

Coisas que mulheres detestam ouvir

*O que você fez no cabelo?
*Dá para falar mais baixo?
*Essa saia é muito curta
*Prefiro esmalte branco
*Agora não dá pra falar
*Nossa! Pra quê tanto nervosismo?
*O telefone chamado está desligado ou fora da área de serviço
*Imagina, isso é coisa da sua imaginação
*Amor, não ouvi o telefone tocar
*Desculpa mas você é muito intensa
*Preto eu não tem, mas tem vermelho, azul e branco
*O problema não é você, sou eu
*Ué, você está com ciúme?
*Preciso da minha liberdade
*Preciso de tempo
*Preciso de espaço
*8,9 ... 10. Agora mais 10 abdominais!
*Comédia romântica não
*A fulana? Imagina, ela é só minha amiga
*Domingo é dia de almoçar na minha avó, lembra?
*Mail Delivery Subsystem - Delivery Status Notification
*Sempre te disse que você está trabalhando demais
*Gorda? Imagina... adoro suas bochechas.
*Estou confuso
*Pra que Victoria Secret´s ? Creme é tudo igual
*Desculpa só temos o tamanho G
*Não aceitamos visa Electron
*Aquele seu amigo te dá mole
*É que você é muito pequenininha
*É que você é muito ingênua
*Depois eu te conto
*Você demora demais para se arrumar
*Não

Ps: esse post foi inspirando num blog argentino.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

carta de Mãe XV

Mande as fotos e fique feliz. Uma vez voce tinha 13 anos e veio com o seguinte discurso:
-Voce ,mãe, voce não me entende.Eu nem sei direito quem eu sou!!!!
E eu respondi:
-Sabe sim! Seu nome é Marilia.Voce é filha do Isaac e da Ana e....vai estudar matemática!!!!
Voce foi e tirou nota boa! VIU????? Psicologia da faxineira do Freud.Basta de melancolia!!!!! Besitos amorosos

mumunhas

Eu fui ingênua de achar que você não ia perceber. Fui encostando naquela parede, toda encolhidinha. Mas você veio. Me abraçou. Deu um beijo na minha testa e perguntou daquele seu jeito: “Tá tudo bem aqui dentro? ” segurando a minha cabeça. Por isso que eu sempre digo: quero a sua receita.

... como se fosse brincadeira de roda...

Aniversário de pai

Ele me manda e-mails com links de notícias internacionais. Me liga pra dizer bom-dia, e me cobra responsabilidades das coisas chatas. "Para você aprender sozinha". Ele é médico e não liga quando exagero meus sintomas. Ele sabe tudo de tudo. É o homem mais culto do mundo. Conhece literatura, sabe todas as datas da segunda guerra. Quadrinhos, banalidades, música clássica. É apaixonado pelo sorriso da Elis. Tem fidelidade ao povo judeu. Ele é meu pai amado. É sensível e carinhoso. O melhor pai do mundo. Ele resolve coisas chatas: coisas de carro, de banco e de documentos. Ele me mima quando eu peço e sempre acerta meus presentes. Ele é muito exigente mas me ensina a ser paciente e solidária. Ele é meu daddy Ike. Meu pãpi. Atende meus amigos sem cobrar. Mas não aceita erro de português. Não suporta humilhação e se irrita com ingraditão. Ele tem senso de humor e sensibilidade. Me leva à galerias de arte e me ensina a gostar do que é bom. Mas detesta frescura, não gosta de restaurante caro e nem ter horário para fazer suas coisas. Ele sabe de Borges e de Woody Alen. Adora mexer e descobrir sites de coisas interessantes, “Filhinha, não tem algum amigo seu que entenda de internet?”, me pergunta sempre. É carismático e unânime, meu pai. Modesto e fotógrafo de mão cheia. É curioso e bagunçado. É meu pãpi. Ele me escuta falar sem parar e nunca reclama do meu mal-humor. Friorento, bravo e eloqüente. Me conta histórias lindas que até hoje eu acredito e acho que vou acreditar pra sempre.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Gente...

... perdi minha LEVEZA por aí. Alguém viu ela vagando? Debaixo dos lençóis, nos porões, perdida em alguma esquina?

Mudança de casa IV

499 caixas, 800 sacos de roupa, sapatos, livros e luminárias depois...
... estou viva, renovada e satisfeitérrima.

Mumunhas

Vc me chamava de fulôzinha. Sua flor. Muitos cadeados, para fechar qualquer pedacinho de alma que tivesse ali, dando sopa no ar. “Sentimento a gente não pode sair por aí, oferecendo para todo mundo”, me dizia você, austero e com aquele ar de dono da verdade. Eu nunca liguei para nada que vc reclamasse de mim. Sentimento não é algo que a gente regula, como um despertador ou intensidade de água de chuveiro. Vem de dentro, é coisa divina. É avaro quem economiza sentimento. “Não entendo porque você tem que ser tão simpática sempre, com tudo mundo”. “Eu sou simpática”, eu te dizia, calma e cheia de amor. O Cd do Cartola tocando e nós dois com suspiros cansados. Versos e Trovas. Palavras nas pontas dos dedos. Pés nos travesseiros e travesseiros nos pés. “A ambiguidade promete salvação", já diria Roland Barthes. Depois, vieram os colares arrebentados e choros escapados em pequenos soluços. Pétalas de Yemanjá abençando a renovação. Eu gostava das doçuras, de quando, bem lentamente, você encostava sua mão no meu queixo e sussurrava : “fulôzinha”. Depois vinha cheio de convicção citando Vinícius: “Quando vc vai compreender, que o ciúme é o perfume do amor ? ”. Eu não compreendi e nem você. Mas sobraram aquelas partituras, as claves de sol, debaixo dos nossos telhados velhos. E isso, meu querido, é canção. É canção.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Da curvinha


Já falei das duas aqui, mas recebi essa foto hoje e me inspirei. Eu sempre digo que tem uma amiga pra cada hora e ocasião. Tem umas que não adianta vc querer ir pra balada e outras não são boas de ouvir a gente chorar as pitangas. Mas essas duas aí são meus amores. São racionais, escutam meus desabafitos homéééééricos sem reclamar e ainda por cima são boas de pista e de samba. A Bebel é do tipo que eu conto as coisas quando to pronta para ouvir a verdade. Ela não é “colo fácil” não... Dá bronca, me tira das nuvens e puxa a orelha quando não faço o que é melhor pra mim. Mas é doce, incentivadora, quando a verdade tá ao meu favor, ela fala também. Minha escorpianinha amada equilibra meu jeito dramalhona. A Táami é minha oxumzinha linda. Fala a mesma língua que eu e no matter what, ela me dá razão. Eu adoro isso. Tem horas que tudo que vc quer ouvir é: to do seu lado -- certa ou errada --tamos juntas. Ah... não dá. É muito amor. É muita energia boa junta, por isso tantos elogios e tantos abrazotes. Porque é de verdade e pra sempre.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sobre profissões I

Desde de pequena eu queria ser atriz. Completamente convicta. Decidi isso aos 4 anos, quando participava de uma espécie de Balé alternativo que a gente podia “ser o que quiser”, segurando tules coloridos. E foi esse sonho maluco que eu sustentei até ... os 19 anos de idade. Isso mesmo. Durou muito tempo o meu desejo de viver outras vidas que não a minha. Logicamente rendeu um preju pro meu pai que pagou anos a fio de aulas de teatro, livros e mumunhas sem fim. Tem uma história clássica na minha casa. Fizemos, quando eu tinha 14 anos, a montagem da novela de Louisa May Alcott, “Adoráveis Mulheres”. E eu aluguei meus pais para me ajudarem a decorar meu texto ( eu estava super emocionada porque tinha sido escolhida, para além da minha personagem, ser a narradora da peça). Aí estava eu lá, me achando a Winona Ryder, encima do sofá com o texto na mão, declamando super alto: “ Era verão em mil novecentos e bolinha, em Massachussets, (pausa) mas pera, Pai, onde fica Massachussets?”. E a risada começou e nunca mais parou. Ainda vieram a Catarina de Shakespeare e 3 anos em que eu me achava uma menestrel completa. Uma formulinha extremamente viciante que aprendemos quando entramos, todas as amigas juntas, naquele teatro. A vida -- a minha vida -- se resumia ( à parte das recuperações de física e matemática), a dançar, cantar e ter a certeza que o mundo era repleto de neo-hippies ocidentais. Eu aprendi a manusear lanternas, malabares, e outras pirotecnias. Quando dormia, sonhava com as cenas da peça e minha rotina era feita de ensaios de final de semana, de roupas largas e cabelos soltos. Churrascos, cantorias e muita, mas muita, risada. Além da prática, tinha ao investimento na teoria. Coisa de filha de intelectual. Aí comecei minhas leituras: A primeira foi o Eugênio Kusnet, que tinha seis lições de intrepretações. Depois veio a trilogia do Stanislavski, um pouco de Brecht e Nelson Rodrigues. Me apaixonei pela peça “A tempestade” do Shakespeare e também pela delicadeza de Tchekhov. Mas eu não parei por aí. Virei uma ratinha de teatro. Fazíamos o programa completo: íamos e eu meu pai, assistir alguma coisa “com texto bom”, dizia ele. Harold Pinter, Bernard Shaw e ... Chico Buarque. Depois meu pai me levava para comer em algum lugar bem típico do centro. Eu me encantava com aquela vida, acontecendo de verdade. Fomos na Familia Mancini, comer um bauru no ponto chic, novidades sem fim, pra mim, é claro. Um dia eu desencanei, me desiludi, sei lá, mas isso é papo pra outro texto. Disso tudo me restaram tesouros maravilhosos: A Kiru, minha irmã linda que brilha nos palcos e continua me proporcionando essa vivência onírica. Uma biblioteca de teatro gigante, que é o meu xodó. Vira e mexe, pego um livro ou outro para relembrar alguma doçura. E uma última coisa: a sensação de uma estréia no palco. Nada minha gente, nem textos elogiadíssimos, nem o abraço mais sincero, nem um MBA international surrond sound, se compara ao friozinho na barriga que dá quando abre aquela cortina. Dizem que é a deusa do teatro que paira pelas cochias soprando brilhinhos nos atores. Eu? Ah ... eu acredito.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Mudança de casa III

Com caixas até o último fio de cabelo e sem encontrar nada no meu já antigo apartamento, acho que o mais difícil de jogar fora são as cartas. Desde sempre. Papel e mais papel. Mas não é só papel né? Tem um montão de palavras ali. Difíceis de esquecer. Mesmo que não faça o menor sentido guardar... ah. Não consigo! Cartão de coração, carta de quando fui viajar, de quando eu voltei. Recadinhos adolescentes, confissões, brigas horríveis... cartas gigantescas trocando faíscas e discutindo sentimentos sérios. De gente que eu nunca mais vi e de gente que até hoje me faz feliz. Postais do mundo todo. Carta de quem já morreu de saudades. Hoje tá tudo no computador. Quando muito, a gente recebe uma doçura via SMS. Muito diferente de pegar aquela cartinha que de tanto reler, o envelope até rasgou. Carta de quem foi pra Noruega, de quem tá na Bahia e por lá ficou. Cartinhas com mentiras ? Muitas mentiras. Barracos e declarações de amor overseas. Gratidão e felicitações: feliz aniversário, natal e ano-novo. Não dá pra jogar fora assim... é história. Mumunhas puras.Frases que sueñan como canción. A Ralston: “Peketita põe a mão no coração”, Nataly: “ Sim amiga, é do Penina... eu canto aqui e vc do outro lado da Dutra”; Mamãe: “Essa é a sua viagem mais importante, que seja a mais doce”; Julia: “beijos com amor da sua irmã, Zula”, Pai: “Encontrei a Judy Garland cantando pra você”, Kiru: “ é hora da Mazinha Cinderela”. Ele: “ você com esse jeitinho que não deixa passar nada, princesa”. Dá livro, dá novela ou no mínimo... uma big nostalgia.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Aniversário de irmão

Ele gosta de Keith Jarret e de Marzipã. Me chama de “princesa” e é afetivo. Foi ele quem me levou a primeira vez ao Playcenter e para comer meu primeiro Big Mac. E foi com ele também, que eu peguei a estrada pela primeira vez. É meu irmão mais velho. O Fec. 8 anos a mais e afinidade desde sempre. Ele acompanha minhas entrevistas, me motiva e me protege,sempre. É a pessoa que eu mais confio. É culto e entende de coisas complicadas: de história, política e economia. Mas também sabe fazer reiki e gosta de correr na praia. Ele me responde, com a maior paciência de irmão, o que é uma “medida provisória”. É o maior advogado desse país. Me apresentou o pianista mais incrível e me ensinou a gostar de Milton Nascimento. Adora uma cervejinha e jogar futebol de segunda-feira. É lindo e tem senso de humor. Quando eu fiz 15 anos, me deu de presente a antologia poética do Vinícius de Moraes. Tem interioridade, é sensível e gosta das gravuras da Thomie Ohtake. Meu irmão é um humanista que planta admiração por onde passa. É organizado sem ser careta. Ele é presente sem ser demagogo. É meu irmão.Me liga quando nossos pais viajam, só para se certificar que está tudo bem. Somos irmãos astrais: Mesmo signo, mesmo ascendente, mesma lua e mesmo sol.
E além de tudo ele vai me dar agora o maior presente: uma sobrinha.
Parabéns Fezão.
Beijo

sábado, 14 de junho de 2008

Mudança de casa II -- Segundo Clarice.


"Muitas vezes o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem consequências, são imprevisíveis. O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim -- que está toda paga, isto é, tem seu preço.
Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina -- quando alguma coisa em mim aconteceu.
Era o profundo cansaço da luta.
E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordaria. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Eu precisava."

MUDANÇA DE CASA

Mudar de casa é ...
1. Encaixotar
2. Cortar o cabelo
3. Sabe aquela papelada? ... LIXO.
4. É tipo um reveillon em pleno meio do ano.
5. Lacrar.
6. Redefinir a hierarquia dos livros
7. Aprender a fazer risoto de alcachofra.
8. "Nunca mais drink no dancing"

Alguém me dá um help ? :)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Encontros e desencontros.

... ele liga e eu abafo, mas sabe como é né? Pra quê mexer no passado. Tudo cicatrizadinho, página virada e tal. E eis que eu to lá no Sabiá e o menino me aparece. Senta junto, fica lá, toma chopp, bate-papo. Coitada da Dricoletinha, que teve que aguentar ele falando e eu com aquela cara confusa. Não que ele não tenha nenhuma graça - tem, óbvio. Mas não tem mais nada a ver comigo. Amém. Ele ainda é o mesmo. Quando eu pergunto :"tudo bem?", ele me responde: "na moral", é daquele jeitinho "yo-MTV!"e ainda é gãgous total. Na hora de ir embora me abraçou e disse: "Fica tranquila, a gente vai começar a se ver mais". Mas pera aí... alguém tava tensa com a distância? Euzinha que não. Mas ele é gãgous né? E gãgous que se preze não se conforma com a idéia que a gente não sonha mais com eles.

Nada aconteceu. Alguns golinhos de chopp, um carinho no cabelo e ... de quebra, um convite estranho. Eu disse, tentando desconversar: "ah... vamos ver né" pensando: "cade o contexto?".

Mas a vida tem dessas coisas, enfim...

Segredinhos de irmãs

Ela é 13 anos mais velha. Quando eu era pequena, me levava ao teatro e para conhecer os atores nos camarins. Ela me ensinou a fazer colares de miçanga e a enrolar brigadeiro. É a minha irmã. A Má. Linda, com sorriso de Penélope Cruz e olhos cor de mel. Ela é meu anjo da guarda. Passa horas me escutando falar e me ensina coisas de mulher. Ela é poliglota e uma cidadã do mundo. É chorona e medrosa. Vive me dizendo que eu sou muito mais corajosa do que ela só porque não tenho medo de viajar e nem de cortar meu cabelo. Ela entende de gente. É a melhor psicóloga. Tem aquele olhar de quem sabe de sentimento e a hora certa de dizer as coisas. É ciumenta e não aguenta me ver sofrer, vira uma onça quando alguma coisa me faz chorar. Ela é mulher moderna: é mãe, é profissional, cozinha como ninguém, sabe resolver coisas de adulta sozinha e não perde a doçura no meio dessa bagunça. Me deu de presente um sobrinho, o croissaint da minha vida, mon petit Davi. Ela inventa palavras e expressões próprias. Adora colo e pequenos abraços. Me ensinou o que é "sentimento oceânico" e diferentemente de mim, é uma motorista excelente. Eu morro de orgunho da minha soer. Do jeitinho dela prender o cabelo, sempre elegante. Do bom gosto pra tudo: culinária, roupa, brincos e cacarecos. Foi com ela que eu comprei meu primeiro sapato de salto alto. E é comigo que ela discute tudo, sem esconder nada. Porque eu percebo a minha irmã melhor do que qualquer um. É ela quem junta a família, porque é a filha mais cuidadosa e habilidosa. Eu morro de saudades e divido, todos os dias, minhas coisas com ela em pensamento. Dizem que a fraternidade é vermelha, no meu caso... eu não acredito.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Sobre argentinos

Eles são galanteadores. Sabem como ninguém sussurar um “sos preciosa” e esbanjam charme. Mas não é um charminho simples. É coisa séria. Porque eles são sérios. Nossos vecinos proteños são sedutores e amam à moda de Gardel. Quem já foi para Buenos Aires sabe do que eu to falando... você anda na rua e eles olham no seu olho. Um pouco diferente das olhadelas quando a gente anda na rua aqui. “Ah Mazinha, isso é uma visão romântica e idealizada dos argentinos”, me dirão alguns. Pode até ser. Mas não me iludo, não. Sei que eles são machistas, conservadores, orgulhosos e vaidosos até o último fio de cabelo. Mas mesmo assim, uma pitada de ares argentinos não faz mal a ninguém.
***
Então era nossa segunda semana em Barcelona cruzamos um menino no metrô, bem buni. A Nanas timidamente me disse: “tem cara de brasileiro né?” Mas não era. “soy argentino”, nos disse ele, Ignácio. Trocamos algumas informações banais, o tempo do trem parar e a gente descer. Combinamos ali mesmo, numa baldeação gigantesca da estação Passeg de Gràcia , de encontrar o “argentininho” que morava com mais 5 amigos, num bar nas Ramblas. Não demorou nada e estávamos viajando com eles para o sul da França, de carro. A gente não se conhecia, não tínhamos a menor idéia do que nos esperava 4 dias viajando com argentinos desconhecidos, mas a idéia era, de algum modo, fascinante. A tal da côte d´ azur estava mais cinza e fria do que interior da Inglaterra. Passamos por cidadezinhas lindas, que na primavera, devem ficar coloridas, no melhor estilo Brigitte Bardot. Mas era inverno. Invernão mesmo, com direito a capuz, bota e guarda-chuva. Nuestros chicos foram se revelando muito parecidos com a gente. Ignácio(Natcho), Tomas (Tomi), Maximiliano (Maxi) e Nicolaz(Nico). Educadíssimos e irmãos sul-americanos. Todos já conheciam o Brasil, o Rio, o sul, sabiam cantar Tom Jobim, Gil e Timbalada, mas nós... Nós pergutamos qualquer coisa sobre a Patagonia, Tango e Salsa. Não falávamos bem espanhol ainda. A comunicação encrecava direto. Eu tinha dor de cabeça no final do dia de tanto esforço. Aí chegamos a conclusão que era melhor cada um falar a sua língua e quando a gente não se entedesse, cambiava direto para o inglês. Assim funcionou perfeitamente. Foi tudo muito diferente e bizarramente divertido. Nos meses que se seguiram, não mantivemos um contato muito próximo. Acho que foi muito intenso o encontro Brasileiras/Argentinos, para o começo da viagem. Só sei que encontrei por acaso, um deles na praça catalynua, uma semana antes de eu ir embora de Barcelona. Continuei, mesmo depois de 6 meses hablando bien, não entendendo direito o español dele. Trocamos elogios e eu fui embora. Restaram muitas doçuras e amizades deliciosas. Nos falamos até hoje. O Maxi veio ano passado com uma penca de amigos, foram para Maresias e eu apresentei pra ele o que é um “Happy Hour”. “ Tenemos que venir vivir acá, chicos! És un paraíso”, dizia ele pros meninos, com um chopp em cada mão, num boteco qualquer da vida. Tudo isso porque ele estão vindo aí. Los chicos con aciento cantado que quieren salir de marcha por san pablo: “especialmente por la noche”. Ok, e dá pra negar alguma coisa pra esses pibes que llegaram para se quedar? Creo que no.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Mumunhas

Descompassos. Uma garrafa de vinho pela metade. Isqueiro esquecido encima da pia. Beijo e abraços carinhosos. Clave de sol e meias palavras... a gente se ajeita, sempre. Abafa a raiva, abafa a culpa e tome leveza. Beijo no canto da boca. Frasco de perfume no final. Sobra só uma borrifada.E um rastrinho no travesseiro. Última mordida no doce. Pois quando tu me deste a rosa pequenina, as provocações ganharam poder de varinha de condão. Pulseirinha da sorte. música de Chico Buaque no final: "se na bagunça..." Meiguices, sempre. Adjetivos encurralados nas cerquinhas do coração.

Sobre a folga

Já faz um tempo que eu quero escrever um textinho destinado às pessoas folgadas. Não é que eu seja uma mini-Fernanda Young que se irrita com tudo.Pelo contrário. Sou super panda e detesto gente amarga que se irrita com qualquer bobagem. Mas se tem uma coisa que me tira do sério é gente folgada. Gente folgada não olha pro mundo, vive na bolha : “eu -umbigo do mundo” e não tem a menor culpa em dizer: “sou egoísta mesmo”. Eu ouvi isso duas vezes na semana passada, assim, com a maior naturalidade. Sabe gente, ser egoísta não é bacana não... é um defeito. Onde que virou “ok” ser uma pessoa egoísta? É... porque as pessoas têm vergonha em dizer que são preconceituosas, que são avaras, mas egoístas não. É super normal. Isso me deixa incorformada. Gente folgada acha que domina a própria vida e mais... é dono do nariz do vizinho. Opina onde não é chamado, sabe ser incoviniente e espaçoso. Gente folgada não entende o que é gentileza. Lá vai vc, ingênua e fofa, fazer uma coisinha buni, e os folgados de plantão já entendem isso como sua obrigação. Folgados não agradecem, não retribuem e ainda consomem mais e mais. São mini aspiradores do brilho dos outros. Se encostam e acomodam-se na educação e altruísmo de quem valoriza os “pequenos tesouro das armadilhas terrestres”, como diria o Paulo Mendes Campos. Ainda bem que isso não acontece comigo né? A gente sofre um pouco mais do que eles -- os folgados, mas também... acho que se eu só olhasse pro meu umbigo o dia inteiro eu enjoaria rapidinho. Acreditar que você é melhor que os outros deve ser tão enjoativo e pobre. Ainda fico com os tropeços do dia-a-dia que não poucos, mas que definitivamente, são mais autônomos e gratificantes.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Gui

Ele é panda também. Atencioso, carinhoso e fiel. “ O caminho é meio tortinho”, ele me diz. Eu concordo. Muitas curvas, poucos freios. O Gui é querido pelos chefes, é workaholic e concentrado. Quando fala no TCC, só fala do TCC, quando o assunto é trabalho, não desvia o olhar; e quando presta atenção em vc, é 100%. Tem boa memória, é espertinho e difícil de driblar. O Gui está sempre bem. Não tem furacão que abale a tranquilidade do surfista da família. Pase lo que pasar, tá ele lá. Santadão, de buena onda, sorriso e com piadas engraçadinhas. “Sussa, Sussinha, Sossegado”, como diria Tom Zé. Ele é um dos poucos que me chama de Marilia e não de Mazinha. E foi ele quem me levou no estádio pela primeira vez. Comigo, ele aprende expressões em espanhol e a lidar com amigas ciumentas. Tem jeitão de irmão mais velho: me dá bronca porque eu não passo protetor solar. É sedutor , tem cara de bom genro, mas coração de malandro. Ele diz que eu sou o xodó dele e eu finjo acreditar. É preocupado e angustiado com tudo. Mas valoriza a família e os vínculos afetivos. A gente gosta de beber vinho e de trocar pensamentos. Ele me conta das viagens e das dificuldades da labuta. Eu conto coisas de mulherzinha e algumas perfumarias. Ele gosta de Siba, de assuntos da América Latina e de praia, sempre. Tem um abraço grande e um jeito próprio de se fazer presente. “Meio tortinho”, é verdade. Mas não deixa de estar lá.
Querida Natalinda,
Ontem fui entrevistar o José Miguel Wisnick. Foi muito legal. É bacana entrevistar gente que não é só culta, mas é também erudita, como é o caso dele. Fomos eu e o Pedro, repórter que trabalha aqui comigo, lá na casa dele, no Butantã.
Ele é bagunceiro, mas o pensamento super ordenado. Assim que a gente entrou, eu contei que tinha estudado na Puc e tal, aí ele me olhou assim, meio contemplativo e disse: “Sabe que eu conheci uma estudante da Puc uma vez? Muito incrível a menina, Nataly”. Eu ri disse que éramos amigas mas que agora vc estava na Espanha, viajando pela Andaluzia. Ele me contou de uma vez que vc foi num camarim do show dele, só para comentar a letra de uma música que ele tinha feito: “carismática e inteligente”, me disse ele. Aí passei uns 15 minutos falando bem de vc e contando nossas aventuras em Paraty para contextualizar o Pedro, que ainda não te conhece. Nata, ele vai lançar um livro pela Cia das Letras sobre futebol. Me lembrou muito o Waltinho, que nas aulas dele, falava de música e futebol, sempre com propriedade, mas nunca sem suavidade, lembra?
Achei ele doce e esquemático. Doce porque tem senso de humor e nenhuma agressividade. Esquemático porque cada resposta era uma aula com começo, meio e fim. Saí de lá toda metidona que ele elogiou minha entrevista com o Wellington Nogueira. Disse que hoje em dia não existe mais debates, que os críticos não querem pensar sobre a cultura, mas falam como se fossem donos da verdade. De novo pensei sobre a delicadeza, e sabe amiga, tem gente como a gente sim. É só treinar o olhar...
beijos com saudades de da nó,
Mazi

segunda-feira, 2 de junho de 2008