terça-feira, 26 de maio de 2009

Os olhos turquesa

crédito: Isaac Neustein
Teroca Pipoca,
Nesse final de semana você estava linda, com sua batinha florida e pulseira de pérolas. No restaurante, enquanto você adormecia, comi aquela torta de goiabada que eu adoro. Quando você crescer e começar a comer doces -doces de verdade, não essas bobagens coloridas e artificiais que as crianças adoram - vou te levar para experimentar essa torta. Mas claro, vou também te comprar as tais balas artificiais, aquelas que vendem por quilo e são carérrimas, com gosto de coca-cola. Depois, Te, se você quiser – sei que os pais não têm paciência – prometo, que te levo no show dos “Jonas Brothes” da sua geração. E pode contar comigo para os filmes e desenhos – seguidos de um Mcdonald´ s. Hoje te vejo assim, Teresa. Os olhos, duas bolas turquesas. Essa gargalhada que escapa em momentos inesperados. E aos poucos, seu jeitinho, sua personalidade se formando. Como você segura seu paninho e mistura no mesmo minuto, o riso e o choro. E vc vai me contar dos seus segredos, Te. Eu vou te contar as minhas histórias e seremos assim, amigas. Vou te proteger com as minhas unhas e afetos. Para você nunca se esquecer. Das nossas tortas de goiabada juntas.
Beijo da Tia Má

terça-feira, 19 de maio de 2009

Leu?

Deixa eu explicar.
Na cabeça de uma passoa panda, frustrar alguém é horrível. Dizer não é um martírio. Agredir então, impensável. Mas o mundo não é feito só de pandas e isso, nós já sabemos. Vira e mexe tem alguma situação, em que uma pessoa normal tiraria de letra, com o simples e clássico “ manda à merda e acabou”, mas nós não conseguimos. Quantas vezes eu já não ouvi que era só dizer isso pra resolver o problema? Mas a lógica de uma panda não funciona no botão “manda à merda e acabou”. Porque cada coisinha, sentimento, ação e reação, é como uma filigrana. Cheia de complexidades
Explico.
Pensamentos que acontecem, quando a gente pensa em ativar o “manda à merda e acabou”:
1- Se eu fizer isso, eu perco a razão.
2- Não vou me rebaixar no mesmo nível da pessoa.
3- Não sei proferir essas palavras sem estar completamente fora de mim.
4- Pra que causar mais ?
5- A pessoa vai perceber que errou, não precisa avacalhar.
6 - Tudo que falamos, volta pra nós, no mesmo grau.
Viu como não é tão simples? Experimenta passar um dia na pele de uma panda pra ver se é gostoso. Depois, não é só quando somos agredidos, que temos vontade de ativar o “manda à merda e acabou”.
Explico de novo.
Há momentos da vida em que simplesmente a gente tem que dizer não. Mas não consegue. Aí chega aquele seu amigo bem resolvido e fala: “ah querida, é simpls, manda à merda e acabou’. Esses momentos são quando:
1- de repente, por qualquer motivo, vc não quer convidar alguém para o seu aniversário. Mas vc pensa: “ ah... fica chato não chamar ciclano, se eu chamar fulano”.
2- por alguma razão, uma pessoa que “drena” vc, te explora, te aluga 40 horas semanais com os problemas , do nada, resolve te cobrar qualquer coisa.
3- alguém se sente dono de vc.
4- vc se sente (inexplicavelmente) na obrigação de ir no aniversário, lançamento, formatura, casamento de alguém que nunca foi no seus eventos.
É, minha gente, c´ est ne pas facil. Mas a gente vai se excercitar. Vou mandar fazer um adesivo no meu carro: “ Panda, aprenda. Mande à merda e acabou”.
Lógico... sempre com o lugarzão comum no coração - "HAY QUE ENDURECER-SE PERO SIN PERDER LA TERNURA, JAMÁS"

terça-feira, 12 de maio de 2009

O choro de Francisco

Parece que o nosso Franciscão Buarque - deixou escapar lagrimitas, no show do Caetano, nesse final de semana. A música que tocou o coração del poetón foi aquela linda, eternizada na voz da Gal, Força Estranha.
Já me imaginei na cena, lógico.
Nós dois, no Canecão. Caetano cantando algo do Zii e Zie. E eu sentada do lado do Chico, tentaria pegar na mão dele enquanto ele discretamente se esquivaria dizendo: “Linda, aqui não. Está cheio de fotógrafos”. Eu ficaria emburrada e já começaria a pensar: “Tá vendo, Marilia? Por que foi se envolver com esse cara? Isso que dá querer ficar com homem mais velho, inteligente, desejado. Agora não pode nem segurar na mão enquanto o Caê embala uma música romântica”. Mas logo o Caetano começaria com uma das suas músicas animadinhas e eu, tomada de fúria, iria dançar lá na frente. Só de birra, colocaria as mãos pro alto e com um leve reboladinho, cantaria bem alto: “eta, eta, eta, eta... é a lua , é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta, eta”. O Chico não seria nem bobo de ceder à minha provocação - afinal ele não é um moleque cheio de cinismo, mas o Chico né minha gente? - e continuaria ali, na mesa, concentrado, introspectivo. Depois de perceber que de nada adiantaria minhas súplicas na beira do palco, eu voltaria pra mesa. Um pouco ofegante e já envergonhada do meu papel infantil. E ele lá, estático. Então, depois de um grande silêncio, Caetano faria uma daquelas introduções lindas - que só ele sabe fazer ... e começaria bem delicadamente : “Eu vi um menino correndo/ Eu vi o tempo brincando ao redor/ do caminho daquele menino". Pouco a pouco, os olhinhos verdes do poeta começariam a baixar e o corpo dele a ficaria encolhido na cadeira. Um gole na cerveja ( ou seria whisky? O que será que bebe o Chico?) e uma tosse sem som. E a música on and on: “eu pus os meus pés no riacho/ E acho que nunca os tirei/ O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei". Ele daria uma piscada mais longa - dessas que a gente dá quando tem uma nostalgia. E ali mesmo eu flagraria... uma lagrimita. Pequena, mas doída, saindo dos olhos mareados do Franciscão, bem no agudo do Caetano : “Por isso uma força, me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha". E aí... aí.... ele deixaria eu segurar na mão dele. Forte. E o Caetano sorriria, daquele jeito que ele sorri quando canta:" Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista. O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece/ Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são". Eu pensaria "Nossa. Quanta angústia, que coisa!". E devagar, enquanto ele soltaria minha mão, daria o último sussurro choroso, junto com a música : "É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão". E eu falaria: "Agora chega de choro Amor, vamos para o samba". E ele obediente, já totalmente rendido, seguraria minha mão, em meio a todos os flashes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Amadas,
Depois que eu cruzei a catraca da estação les sablon fiquei muda. Não tinha nada que fizesse eu me sentir melhor. Nem o francesão que sentou do meu lado no trem... Eu tava toda atrapalhada tentando encaixar a mala quando aquele “Zidane” pegou, num rompante, o trambolho da minha mão e fez - milagrosamente- caber bem lá no alto. Depois, chorosa, eu olhava pela janela, até que ele me perguntou: “Pardon madame, mais vous être triste?”. Tá, até arranho francês, mas como eu ia conseguir explicar pra ele que, sim eu estava triste. Que não, eu não queria voltar para casa. Que sim, eu ia ficar com uma coisa que eles, franceses, não entendem - saudade. E não, nem que ele me abraçasse muito forte eu me sentiria melhor. Dei um sorrisinho tímido e disse: “ não, é só o pólen que me faz lacrimejar”. Ele não acreditou, mas foi cumplice e fingiu bem. Depois me convidou pra tomar um café no outro vagão, mas eu não aceitei. Ah gente, sabe? Me deixa. E no fim da viagem, quando me ajudou a recolher a mala, falou : “eu também odeio despedidas”. Eu ri baixinho e dei uma bitoca -merecida- na bochecha dele, que ficou sem graça, buni. Mas nem esse mini “rendez vous” desatou o nó da minha garganta. Só compartilhado agora com vcs minhas queridas.
Beijo do lado do atlântico.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Em NY

Logo no segundo dia me deparei com aquele Chagall imenso. Ela segurando uma flor e um fundo azul bem, bem forte. Fiquei ali estatelada durante uns 5 minutos. A janela do quadro era imensa, quase dava pra sentir o vento que batia no cabelo da moça, vestida de rosa, segurando aquela flor. Foi no Museu de Arte Moderna. Depois andamos naquelas avenidonas barulhentas. Ele me explicou: " É um vício. Não é que a cidade não seja bonita ou agradável, é viciante, mesmo". Depois de 5 dias lá, a gente não quer calma, mas deseja as pessoas do mundo inteiro, a buzina estressada dos taxis, a elegância ultramaisqueconcreta daquelas meninas.Vício. Muito fácil entender aquela cidade - é baba pra quem mora em SP. "Pai, agora já to entendendo. Isso aqui é diferente do resto dos EUA inteiro". É Woody Alen, Spyke Lee. Tá, é tbm Sexy and The City , sapatos glamurosos e “compre 2 , ganhe um for free”. Mas são museus incríveis, famílias inteiras no Central Park, moleques jogando basquete em quadras públicas. Patrícios andando pra cima e para baixo, diamantes vendidos que nem banana. Musicais. Arranha-céus. Uma cidade em que vc acredita que as pessoas falam sozinhas, quando na verdade estão falando pelo bluetooh - ou seja lá qual for o nome daquele telefone que fica pregado na orelha - coisa mais neurótica. Cidade do trabalho. Gripe suína? Que nada. Ninguém de máscara ou deixando de pegar o metrô. O filho de indiana e paquistanês "but preety americanized" Yasser, me disse, sem titubear : “ essa cidade é uma coisa de louco”. É, cidade louca . O outro israelense: “é apaixonante”. Fiquei com a definição dele: “vício”. Ele é “one of a kind” - me levou no programa de turista só porque eu queria ver a Estátua da Liberdade, foi comigo até o Strawberry Fields porque fiz questão de ver onde o John Lennon morava. Pai é pai, né gente? Espera a gente experimentar tudo, deixa a gente ser ingênua falando do Obama e ainda tem a candura de escolher um restaurante pensando no que a gente gosta. Sortuda eu, né?