quinta-feira, 8 de abril de 2010

Margarita

Querida Margarita,
Estou tão contente que vou te reencontrar que quase não caibo em mim. Lá se foram 6 anos e aquela menina moleca está mais para uma moçoila rabugenta do que aquele pote de mel que vc conheceu.
Fico ansiosa só de pensar em descer na estação Vallcarca e subir a calle Gomis. Pegar aquele elavadorzinho peque e entrar na sua casinha com cheiro de essência de limão. Saudade. Acho que eu vou ficar um pouco nostálgica, mas tudo bem, né? Vc promete que me dá um abraço de madre catalana? Então tá.
Foi o Guimarães que disse que "o correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta". Ainda bem.
Lembro como se fosse hoje: eu friorenta, hospedada na sua casa, sempre te pedindo mais um cobertor. No primeiro dia vc me deu uma manta bem grossa. No segundo, um saco de avelãs quentes para colocar no pé. No terceiro dia, vc desistiu. Colocou um cobertor na minha cama que era praticamente uma pele de urso, só faltava a cabeça. Sempre terna e querida. E não é que tivesse sua acidez. Catalaníssima, cheia de opoiniões, intensa e corajosa. Cozinheira de mão cheia. Nos colocou pra trabalhar. Ensinou a fazer um nhoque maravilhosos e um pá amb tomaca inesquecível. Saudade. Dos papos na sala de estar cercada de livros, da porta da sala entre-aberta quando vc estava com su "compañero". Tão querida e cuidadosa com as suas "nenas". Nunca vou esquecer de vc explicando que a gente não poderia demorar no banho porque "no tenemos tanta agua como en vuestro pais" FOFA. E cheiro de quando chegava com o maço de jasmin nas mãos...
Viu só, Margarita querida, sou reclamona mas sei bem lembrar de todos os detalhes especiais da estadia na 'amiga barcelona'.
To chegando para te dar um beijo carinhoso, brindar com um bom vinho espanhol e ouvir suas histórias.
Besote de tuya nenita,
Marilia

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Freud, Caetano e os meninos do Santos

Querida Natalinda,
Aqui na terra falta um pouco de samba, bossa e rock ´roll. Acho que as pessoas, de um modo geral, estão muito desinteressantes. Ou melhor, desinteressadas. Ninguém lê, paira um ar de superficialidade nos discursos e, juro, até nas piadas. Falta humor inteligente, sacadinhas de quem, hum, sabe. Sabe? E digo pra você, minha amiga, isso não é um olhar meu não. Vc sabe, sou sensível, panda, sempre pronta para perceber o melhor de cada um. Acho mesmo é que as pessoas estão ficando cada vez mais burras. Educadas à base de BBB e sitcoms americanos. Epa, não é que eu não assita hein. Tbm adoro passar a tarde contaminada pela preguiça, vendo essas besteirolas. Mas só isso não dá, né. Não sei, mas falta um quê. Um suspiro de diferença. Tá tudo muito padronizado, muito "facebook". Nego coloca lá: "vou almoçar" e tem 800000 mil comentários. Gente, falta do que fazer. Essas frases soltas, jogadas numa tela. Vouyerismo puro. E não tem escape, a gente acaba ficando refém. Eu tbm. Vira e mexe coloco alguma coisinha lá. Loucura esse mundo. Aí vc sai com as pessoas e sabe do que elas falam ? Do facebook, quem fez, quem deixou de fazer e quem colocou o que lá. É maluquice pura. Me dá uma aflição. Ninguém vai ao teatro, troca uma impressão sobre um filme que não que seja: "passei mal assistindo avatar 3d", ninguém tem uma música nova pra te apresentar. Mesmice, padrão. Até a comida tem o mesmo gosto em todo lugar. Estou começando a achar que São Paulo está ficando que nem os Eua. Pessoas bem-educadas, burrinhas e medíocres. Ui, to pesada hoje, né.
Fora o papo do futebol. Ah gente, sabe. Tem limite pra tudo. Homem que é homem, sabe falar de outras coisas que não só futebol. E veja só, eu sou uma mulher que gosta do esporte con la pelota. Outro dia mesmo tava aqui fascinada com esse time do Santos. Cheio de meninotes que se divertem jogando, vc precisa ver, Nata. Me remete àquelas frases do meu pai: " no tempo do Pelé se jogava com arte". Hahaha uma gracinhas, os meninos. Cada gol que eles fazem é um rebola pra ca e rebola pra lá, super divertido. Mas então, aí tem esses que só ficam articulados na hora de falar de futebol. Madre mia! Sai do Uol, mané! Vai ler algum livro, Chuchu, que vai fazer um bem danado pra essa sua cabecinha cheia de cerveja.
Ah mas isso não se restringe aos homens não, viu Nata. As mulheres tbm estão desinteressantes. Muito encimesmadas, até um pouco egoístas, paranóicas. Perdendo o charme, a leveza. Ficando... fúteis. Essa coisa de itgirl, de fazer pose como se tivesse em Manhattan... hello, Brasil.
Tudo isso pra te dizer que fui ver o Wisnik falando sobre Freud no Sesc Pinheiros. Com a participação saborosésima de Caetano Veloso cantando uma música linda que eu não conhecia que chama "Mãe". Ele meio tímido, falou que estava até "um pouco grilado" de cantar aquela música. Foi lindo. Tinha verdade, sentimento, entrega. Coisa de gente que sabe fazer. O wisnik mais ainda, nem preciso te dizer que os meus olhinhos brilharam quando ele conseguiu achar os conceitos do Freud no Machado de Assis e pasme, em Gregório de Mattos.
Aí, Nata, a gente vê. Como tem gente interessante, inteligente com coisas para dizer, acrescentar e trocar. Que não vive de literatura barata de baixo augusta ou de jornalismo esportivo. É gente que fala de alma, sabe?
Saí de lá, saltintante e preenchida. Quero ler a obra completa de Freud. De repente até me arrisco a responder a célebre do velhinho austríco. O que querem as mulheres?
Depois de tudo isso, te peço pra me contar um pouco aí desse seu mundo que, com toda certeza, tem pessoas e coisas muito mais interessantes e please, me sopra suas ternurinhas, to chegando e vc, sabe. Quero estar atualizada dos assuntos.
Beijocas
Mazi