terça-feira, 29 de abril de 2008

Receita de uma boa Panda

Se você não tem certeza se é panda ou não, aqui vai alguns passos básicos para entender esse traço de personalidade.
- Diminutivos são básico no vocabulário. Por mais que você tente, não consegue se livrar deles. Lá vem alguém dizendo: "Mazinha", "juzinha" e "Renatinha".
-Variações dos diminutivos também. Se você ouvir alguém te chamar de "florzinha", "perolinha", "pequenina" entre outros, tenha certeza: você é uma panda.
- Se pessoas completamente desconhecidas se sentem a vontade para dividir assuntos, digamos assim, de foro íntimo com você -- Tsc-tsc -- bem-vinda ao panda-club. Na fila do banco, a prima da amiga, o segurança da balada. Não importa. Você será sempre um colo em potencial. É preciso aprender a se defender.
- Se algum dia em que você acordou com a pá virada e não derramou o doce mel da sua boca as sete da manhã, alguém vira e fala: "nossa! como você está irritada", that´s it. É permitido que tudo fique mal, mas você, Panda que é, não pode. Um dia meio cabisbaixa basta para todo mundo achar aquilo um abusrdo.
- Sê você se sente meio responsável pelos outros ou uma culpa incomensúrável pelas desgraças mundiais. Não há como negar. Nem Freud, Lacan ou revistas feminias conseguem explicar. Mas é complexo de Panda.
- Aí vem o período da negação. "Quem disse que eu quero ser panda?" minhas "lindinhas", já que é uma condição, não adianta negar. O melhor é descobrir como curtir isso.
- Porque na verdade ser panda é uma delícia. Bem melhor do que ser uma Hiena, um esquilo ou um pássaro na gaiola. A gente se protege, vive em grupo e sabe prover carinho como ninguém.
- A gente segura a cabeça dos malucos, sai da cama em um dia chuvoso só para acompanhar outra panda animadésima para dançar. Porque panda que é panda tem paciência de ver a outra 14 horas na frente do armário abarrotado dizendo que não tem roupa e que o mundo é injusto. Caronas, mimitos, mumunhas e outras cositas más.
E no fim... tudo termina em alguns risos furtados, choros embrigados de final de noite e encontros inesquecíveis.
Amovosostras.

domingo, 27 de abril de 2008

Lembra das pequenas epifanias?

O Cauê é um doce. Não conseguiu dizer que eu estava bonita então disse assim: “Você está tão bem né? Você soltou o cabelo?”. Sorri. Tem aquele tipo de leveza que é invejável. Coração bom, solidário. Segurou minha bolsa e colocou a mão na minha coxa. Partiu um pedaço de carne, colocou no meu prato e regou com limão “assim fica mais gostoso”. Alimentou-me. Minha alma saiu de lá satisfeita. Olhou pra mim e disse: “Você está um pouquinho bêbada, vou te levar em casa”. Não precisa, mas trouxe. Falou de Chico Buarque como se fosse mulher. Comentou que tem azar no jogo “mas sorte no amor” com um sorrisinho sutil e maroto. Desses que não promete nada, mas já vem embutido o mundo embrulhado em ouro. É queridíssimo pelos amigos, pagou a conta e deu carona pra todos. Quer ter filhos logo “uns 5, se eu pudesse, teria já”. Quando o irmão mais novo pede champagne porque “está com sede”, Cauê dá um tapinha e fala “pega uma coca”, mas acaba dando um golinho.
Ele me deixou com um sorriso genuíno no rosto o dia seguinte inteiro. Quando eram 11 horas me ligou pra saber como eu tinha ido pro trabalho, “fiquei preocupado”. E um silêncio grande tomou conta da linha telefônica. Não conseguia falar nada. É que dentro de mim tinha apenas uma brisa que não podia ser verbalizada. Porque é muito interna, íntima e profunda. Tranquei minhas palavras.
Durante a tarde lembrei de um texto do Caio Fernando de Abreu que fala em pequenas epifanias : “Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso – aquela outra vida, inesperadamente misturada a minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania.”
Eu vivi uma pequena epifania porque enxerguei um presente em todo aquele sentimento. Depois veio o súbito medo de perder, de esquecer todos os sentidos que foram colocados a postos naquela noite. E tudo que estava suspirando dentro de mim na manhã do dia seguinte. O medo de simplesmente esse momento, fazer parte da coleção de coisas que foram e que não deixaram nenhuma marca. Sempre fui nostálgica, sobretudo do que não chegou a acontecer. Dos deslumbramentos a haver. Já ele, o Cauê não. Ele é concentrado na felicidade. Tem um sorriso espiral e olhos solares.
E tudo isso nascido de uma noite de coquetel de trabalho...

sexta-feira, 25 de abril de 2008


Querida Natalinda,
Ontem fui entrevistar o Welligton Nogueira dos doutores da alegria. Quando eu cheguei lá, logo disse que vc tinha mandado um grande beijo. Ele então me contou dos tempos em que vc trocavam palhaçadas e gargalhadas também. Eu disse pra ele que agora com vc o assunto era só tacones e choros gitanos. Ele ficou um pouco triste, acho. Mas depois rimos muito. Ele lembrou de vc andando pelo palco " a palhaça mais graciosa que eu já conheci". Eu concordo Nata. O riso é gracioso, vc não acha?
Conversamos por quase duas horas e acho que foi a entrevista mais sensível que eu já fiz. O cara transborda carisma e sensibilidade. Ele entende de candura, de pureza, de amor. Ele entende de troca ( isso é tão raro hoje em dia!!) e de jogar junto. Me disse coisas importantes: que o mundo está doente, que precisa de um pouco de "besterologia" pra cuidar de tanta gente azeda e descrente. Já me imaginei chegando toda palhaçuda aqui na redação, jorrando água nas florzinhas, falando dialetos e com um nariz de palhaço lilás. Porque a gente é palhaça, mas a gente é fina né querida?Aí eu contei pra ele sobre aquele nosso papo de delicadeza. Lembra? "Talvez no tempo da delicadeza"? Nata, o palhaço concordou comigo. Não existe mais delicadeza e o humor é uma forma de subverter tudo isso. Sabe que mais ele me disse? Que o nariz de palhaço é a menor márcara do mundo escondendo o maior ser-humano. Que existe uma qualidade de silêncio. Vc já pensou nisso? Num silêncio que seja verdadeiro e bonito? Aí eu te pergunto amiga... não é um anjo? Eu sei que é.
Beijo cheio de saudade
Mazi

Meninas-mulheres

Meninas-mulheres pra começo de conversa, são por definição, escandalosas. Abraçam-se com fervor de quem não se vê há anos mesmo que tenham se visto no dia anterior e passado o dia todo conversando ao telefone. Meninas-mulheres gritam, dançam, ocupam espaço fazem rodinha, fofoca, intriga... Mas tudo, claro, sem nenhuma maldade.
Meninas-mulheres têm a capacidade única de discursar horas sobre a política externa brasileira, discutir seriamente sobre a entrada da Turquia na união européia e no mesmo segundo compartilhar as dores de TPM, dos quilinhos a mais tão difíceis de perder.
Meninas-Mulheres gostam de astrologia, psicologia, ioga, religiões, comida natural. Desenvolvem a espiritualidade, mas analisam a vida com olhares científicos. Têm opinião pra tudo. Futebol, cinema, teatro, dinâmica familiar, o papa e a igreja católica, os professores bons e os ruins, a faculdade como instituição, a miséria, a implantação de botox, a legalização do aborto, a vida pessoal do Rodrigo Santoro, a política de Putin na Rússia e assim por diante. Só não vale ficar quieta.
Meninas-mulheres gostam de um sambinha, cervejinha e um foundizinho. Beijos e abraços fazem das meninas-mulheres afetivas. Meninas-mulheres gostam mesmo é de fazer brigadeiro depois da noitada e de pijamas e pantufas lamentar horas sobre os antigos casos amorosos. Falecidos, ex’s, covardes, crianças, moleques... Lindos, fofos, sedutores, amáveis, carinhosos.
Bem informadas, andam de carro, metrô, táxi ou a pé. A música é essencial na vida de uma menina-mulher. Criar trilhas sonoras, dirigir cantando, dançar até cair um hit dos anos setenta. Passar mal ouvindo um chorinho bem tocado, acreditar que o Chico Buarque compôs aquela música pra você sim e pra mais ninguém. Deitar na rede e relaxar ouvindo Enya. E nunca, jamais, ficar parada ao som de um samba-rock.
Meninas-mulheres odeiam tomar chuva, pegar trânsito. Reclamam de São Paulo, mas amam a vida noturna da Vila Madalena. Falam mal de cinema americano, mas não dispensam uma boa e boba comédia romântica. Tomam coca-ligth, mas não abrem mão do docinho que acompanha o café.
Meninas-mulheres se enchem de orgulho ao dizer “é um tempo pra mim, pra eu ME descobrir, ME valorizar, aprender a ficar sozinha”. Que nada! Carentes, nossas meninas mulheres odeiam ficar sozinha.
Ser menina-mulher é ter coragem de assumir a infantilidade de sua condição. É um aprendizado continuo de saber a hora de falar, de perdoar a si mesma, de ser honesta e de construir sua personalidade. De lutar contra o fantasma culpa, de ver graça nas pequenas poesias da vida. Desenvolver sensibilidade e acima de tudo sempre... O bom humor.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

SAN JORDI e otras cositas más...

Querida Nata,
Muitas coisas. A primeira dela é que hoje é dia de San Jordi ( o patrono da Catalunya), né?
Quando eu estava aí junto com a Nanas ( há 4 anos, por diós), fiquei encantada com o ritual todo. Olha só o que aconteceu. Morávamos na casa de uma senhora, sim a Margarita, que logo no café da manhã, nos contou que no dia de San Jordi, os homens regalavam flores as mulheres e em troca elas lhes davam livros. Eu achei aquilo meio estranho, mas ok. Ainda assim... encasquetei: "ué, e mulher não precisa ler?". Mas a Margarita me contou que tudo isso tinha um porquê. Diz a lenda que San Jordi (São Jorge, --sim ele mesmo -- Jorge da Capadócia: "para que tenha mãos e não me alcance") matou um dragão que assombrava os pueblos da catalunya. E que no lugar de sangue, foi derramado um mar de rosas. Ok, lindo isso, mas até aí, onde entra os livros? Ao que parece 23 de abril é também a data de morte do Cervantes e por isso se comemora presentando com livros. Acredita?
A verdade é que quando saí na rua fique encantada com as banquinhas de flores e livros. Nada parecido com o nosso dia dos namorados "compre um celular para ele e fale quando quiser". Tudo muito orgânico e de verdade. Fomos las dos brasileñas, nesse mesmo dia, cenar com alguns suecos. Leia-se: os suecos não entendem de romance, nem de malemolência. Mas queriam nos ensinar a cozinhar. Nata, vc já pode imaginar o que foi né? Eles cozinharam maravilhosamente bem e a gente male/male fez uma caipiriña digna de ser apreciada... Mas sabe o que me impressionou? Eles, los dos suequitos que mal sabiam diferenciar feminino e masculino no espanhol, me contaram que tinham amarrado uma rosa em uma linha e que tinham descido a flor bem devagarinho do sexto andar, até a senhora que limpava o prédio deles, no térreo. Achei uma graça o jeito que eles "incorporaram" o ritual de um outro país. Depois me deliciei com um tiramissú e fomos embora pra casa. Na rua... ainda resquícios das flores, como na manhã depois do reveillon quando as flores amanhecidas de desejo ainda restam na areia, sabe?
E quando chegamos na casa da nossa senhorinha... duas rosas estavam lá, esperando a gente. Quem foi? San Jordi. Así creo yo.
Lindeza, não importa o livro, não importa os "significantes". Mas o que resta é isso... uma neblina de lembranças que pouco tem a ver com os objetos e sim, com os rituais.
te quiero querida.
Besito
Mazi
"Chiiiiina"

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Medley

... Vc precisa saber de mim, Baby. Eu vi o tempo brincando ao redor daquele menino. Ame e deixe-o livre para amar. E reclamei baixinho, dei pra maldizer o nosso amor. Disse ele que agora me amava como esposa. Catando a poesia que entornas no chão. O meu sono se embalava no carinho dos seus braços. Mambembe, cigano, debaixo da ponte cantando. Se va enredando, como en el mura la hiedra. O que será que me dá? Que me bole por dentro será que me dá? Give-me love, give-me peace on earth. Rouxinol me ensinou a não temer.Tu as le parfum de la cachaça e de suor. Nuestra primera intención eran solo en colores. Choro preso em acalanto. Ne me quitte pas. Esta doce melodia que me faz lembrar. Não quer mais sapato baixo, vestido bem cintado. O suburbano coração.Tava em Madureira, tava na Bahia. Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher. A little more blue than then. E se pudéssimos ter a velocidade para ver tudo, assistiríamos tudo . O meu amor tem um jeito manso que é só seu. Que me rouba os sentidos. Pois quando tu me deste a rosa pequenina. Tudo certo como dois e dois são cinco. Tentar ficar amigos sem rancor. Eu sou a flor da primeira música. Fontes de mel e os olhos de gueixa. Com açucar, com afeto fiz seu doce predileto. Ah bruta flor do querer...

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Carta a uma amiga radicada em Berlim

Querida,
A gente economiza nas palavras quando não tem muito o que dizer. Ou quando não pode, por uma razão qualquer, dividir. Quando fica difícil verbalizar alguma brisa.
Agora queria mesmo saber de Berlim. O que vc sente dessa cidade? A atmosfera é pesada? Como é viver em um lugar inteiro reconstruído e assombrado por memórias de um tempo de dor? É verdade que Berlim é a nova Meca das artes?
Me conta querida. A curiosidade me martela e a saudade aperta.
beijocas.

domingo, 13 de abril de 2008

Clarice


Meu segredo é ter olhos verdes e ninguém saber

Ines Pedrosa


...Puxei-o para o salão de baile, onde flutuava a música de um tango, e dancei com ele até ao nascer do sol. Quando saímos atrás do cheiro do pão quente já não me apetecia ...

Dricoletinha-nha-nha-nha

A Dricoleta tem vergonha de manifestações públicas de afeto. Odeia quando eu grito no meio do bar "Dricoletinha-a-a-a-a". Ela fica vermelinha. Pior ainda quando a gente canta aniversário pra ela. Os cabelos dourados ficam em pé! Porque é discreta. É, ela é discreta -- mas tem uma ousadia contida que sai em pequenos rompantes. Antes ela só pintava a unha de branquinho, agora ela ousa um vermelho. Antes ela só dava alguns tímidos abraços, agora ela agüenta a minha manha me dando colo. A Dricoleta, é a Polska. Nossa "gestão". É a "tia Dri" mais querida. Porque com ela não tem tempo ruim. Nunca. Se precisar, ela dirige até a Bahia, sem lenço nem documento, só pra "tomar uma brejinha", ou "fazer um churras". A Drica é uma das poucas que me dá bronca. Não tem medo de mim. Ela me fala a verdade sem nenhuma agressividade. E isso só me faz gostar ainda mais dela. Ela é a nossa gestão porque se faz presente, porque decide -- quando cada um tá preocupado com as suas próprias bobagens -- a Dricoletinha tá lá, pronta pra próxima. Ela é fiel. Em todos os aniversários, nas despedidas e nas boas-vindas também. O copinho na mão, uma carona disponível, um jeitinho carinhoso de dizer :"Vamos Mazolinha". Tá lá. A raquete de frescobol, a Pati a tiracolo e outras cositas mais...
A "loira da Band" aceita tudo. Menos palmas: "tenho vergonha", ela diz. A gente? Respeita, afinal de contas, a gestão é ela.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Guimarães Rosa


... Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Carta de Mãe XII

É filhinha!!!! Há que controlar a ansiedade, deixar por conta da Vida,do Universo. Ser como a minha Yemanjá—dar a luz no mar e deixar a imensidão prá eles. Mas,as vezes,a gente quer pentear o cabelo,saber das coisas....Um beijo

Eu e ela -- duas pandas perdidas numa noite suja

Somos duas pandas.
Eu: uma panda brava.
Ela: uma panda mansa.
As vezes não dá vontade de ser panda. Mas não adianta. É como aquela história do escorpião -- é da natureza. O máximo que a gente consegue, é ser um passarinho ( em momentos esparsos), uma borboleta (com muita inspiração), uma joaninha ( sempre, mesmo que em pensamento), ou uma tatu-bola (em dias chuvosos)
Somos duas panda.
Eu: uma panda arisca e mal-humorada
Ela : uma panda carinhosa e melancólica.
As vezes cansa ser panda. Mas esses bichos se ajudam. Descansam juntos. Defendem o grupo. E depois se perdem na metafísica e nos pensamentos inúteis.
Somos duas pandas.
Eu: uma panda pequena e vulnerável.
Ela: uma panda grande e cheia de colo pra dar.
Gracias querida.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Respondendo a pergunta da Kiru

Mas os meus fantasmas não tão indo embora
O que eu faço pra calá-los???


Olha amiga, não tem uma única resposta pra isso. Tem que deixar gritar mesmo. Pra que calar? Isso só piora-- já dizia o mestre Freud, depois vem "o retorno do recaldado". Belive me. I know about it. Deixa sair, fica mais fácil de enfrentar e superar. Acho que é aquele lance de "heel" mesmo. Um pouco pelos machucados, outro pouco pelo desgaste. Como disse o Gabriel : "em noites de insônia ou lê um livro, ou soca o travesseiro". É meio isso. Deixar quieto e assassinar as memórias ruins. As pequenas humilhações, uma ou outra solidão, o jeito austero de tomar a decisão sozinho... tudo isso. O resto -- a parte boa -- guarda lá no baú de espantos. Como foram com os outros. E como vai ser sempre.
beijocas
Mazi