sexta-feira, 19 de março de 2010

Doce, o Nascimento

Querida Natalinda, Muito tempo e muita saudade. Horrível essa rotina massacrante que deixa a gente sem tempo para ficar perto de quem a gente gosta.
Me conte alguns suspiros de Berlim, por favor? Acho que quando fui para essa cidade, estava de olhos (ou coração, talvez) vendados. Porque não vi a beleza contraditória da qual todo mundo fala. De novo, a beleza tá na gente né? E se não estamos abertos, nada deve impressionar. Me conta daí. O que você e a Fe têm aprontado. Como são esses alemães, tão complexos. Fortes, esbeltos, culpados, caxias. Me diga se acha que eles são felizes.
Amiga, ontem entrevistei o Milton Nascimento. Depois de muito tempo tentando, correndo atrás do Bituca, ele cedeu. Acabou sendo por telefone mesmo. Pensei comigo: “Poxa, justo com o Milton?”, boba eu. Porque até por telefone ele consegue ser apaixonante e doce. É, doce. Tão dulce que ‘uele a azucar’, não é assim que você fala ?
Logo no começo da conversa contei que era sua amiga. Nata, ele ficou em silêncio alguns segundos e riu. Sabe aquela risada que escapa meio olhando para baixo? Pois foi assim. Me contou que quando foi para Roma, ano passado, um show dele foi cancelado. E ali, passeando pela Piazza Navona, uma “mocinha muito simpática e bonita” foi saltitante na direção dele. Que a mocinha era você, eu já sabia. A novidade para mim é que vocês ficaram amigos. E zanzaram por Roma um dia inteiro juntos. Foram ao Coliseo e à Fontana di Trevi. Que foi um dia lindo. Olha, nessas, ele deixou escapar que dedicou uma música para você no disco que está gravando. Eu insisti pra ele me contar ao menos um verso mas ele não quis. É surpresa. Depois me pediu seu telefone, falou que tem seu e-mail mas que não tem o hábito de usar internet.
Depois vc me conta quando ele te ligar? Também quero ficar amiga do Milton. Ele é aquele mineirinho de papo bom que a gente sente que conhece desde sempre. Demorou 13 minutos para responder só a primeira pergunta e contou causos deliciosos de Minas, Rio e até da Dinamarca. Aí Nata, lembrei de uma aula do Walter. Em que ele disse que a voz do Milton tem uma tristeza que é histórica. Sabe que eu senti essa “força histórica” que ele falou. Mas não a tristeza. Rimos a entrevista inteira.
Tudo terminou com um convite para gente comer um tutu de feijão e um lombinho lá em 3 pontas, na casa da irmã dele.
Bora, Natalinda? Assim vc mata a saudade do temperinho inovidable brasileiro.
Beijos saudosos
Mazi

quinta-feira, 11 de março de 2010