terça-feira, 12 de maio de 2009

O choro de Francisco

Parece que o nosso Franciscão Buarque - deixou escapar lagrimitas, no show do Caetano, nesse final de semana. A música que tocou o coração del poetón foi aquela linda, eternizada na voz da Gal, Força Estranha.
Já me imaginei na cena, lógico.
Nós dois, no Canecão. Caetano cantando algo do Zii e Zie. E eu sentada do lado do Chico, tentaria pegar na mão dele enquanto ele discretamente se esquivaria dizendo: “Linda, aqui não. Está cheio de fotógrafos”. Eu ficaria emburrada e já começaria a pensar: “Tá vendo, Marilia? Por que foi se envolver com esse cara? Isso que dá querer ficar com homem mais velho, inteligente, desejado. Agora não pode nem segurar na mão enquanto o Caê embala uma música romântica”. Mas logo o Caetano começaria com uma das suas músicas animadinhas e eu, tomada de fúria, iria dançar lá na frente. Só de birra, colocaria as mãos pro alto e com um leve reboladinho, cantaria bem alto: “eta, eta, eta, eta... é a lua , é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta, eta”. O Chico não seria nem bobo de ceder à minha provocação - afinal ele não é um moleque cheio de cinismo, mas o Chico né minha gente? - e continuaria ali, na mesa, concentrado, introspectivo. Depois de perceber que de nada adiantaria minhas súplicas na beira do palco, eu voltaria pra mesa. Um pouco ofegante e já envergonhada do meu papel infantil. E ele lá, estático. Então, depois de um grande silêncio, Caetano faria uma daquelas introduções lindas - que só ele sabe fazer ... e começaria bem delicadamente : “Eu vi um menino correndo/ Eu vi o tempo brincando ao redor/ do caminho daquele menino". Pouco a pouco, os olhinhos verdes do poeta começariam a baixar e o corpo dele a ficaria encolhido na cadeira. Um gole na cerveja ( ou seria whisky? O que será que bebe o Chico?) e uma tosse sem som. E a música on and on: “eu pus os meus pés no riacho/ E acho que nunca os tirei/ O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei". Ele daria uma piscada mais longa - dessas que a gente dá quando tem uma nostalgia. E ali mesmo eu flagraria... uma lagrimita. Pequena, mas doída, saindo dos olhos mareados do Franciscão, bem no agudo do Caetano : “Por isso uma força, me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha". E aí... aí.... ele deixaria eu segurar na mão dele. Forte. E o Caetano sorriria, daquele jeito que ele sorri quando canta:" Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista. O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece/ Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são". Eu pensaria "Nossa. Quanta angústia, que coisa!". E devagar, enquanto ele soltaria minha mão, daria o último sussurro choroso, junto com a música : "É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão". E eu falaria: "Agora chega de choro Amor, vamos para o samba". E ele obediente, já totalmente rendido, seguraria minha mão, em meio a todos os flashes.

11 comentários:

Pedro Henrique França disse...

hum. eu não sei o que ele bebe. mas compactuo da opinião da Fafá de Belém quando lhe perguntei por que tamanha fixação em gravá-lo. "O Chico consegue dizer coisas indizíveis. Traduz sentimentos com palavras certas, que a gente jamais usaria. E que ninguém sabe fazer como ele". Simples assim.

Uma Ju disse...

mazi, que amor de texto!
consigo ver a sua provocação, toda pandinha e doce, na tentativa de puxar a atenção do mestre. o chico, ó, o chico...será que ele sabe que é ele que está nas nossas "vitrine" imaginária? coitado... acho que não.
e a gente, aqui, a catar a poesia entornada no chão.
sobre o texto, de novo, delicado, lindíssimo!
amo-t.
por essas e outras.

Marina Morena Costa disse...

Hahahaha!!! Demais, mazinha! Imaginei a cena direitinho. O que será que se passou naquele instante em que uma lágrima escorreu? Aiai...
Lindo isso que a Ju disse também. Ele tem estado demais nas minhas "vitrines", por conta do livro!
Terminei e vou escrever um post citando o comentário q vc fez. Uma frase simples que diz tudo.
Como é bom esse espacinho!
Saudades!
Amo!
bjo!

Juliana disse...

acho que ele bebe scoth...

adorei o texto!

bjs

Renata Megale disse...

gente, era só um cisco....
ãhãmmm!

parfait, quando vc autorizar... já sabe, né?
bjocas

Kiputz! disse...

Ele bebe é Negroni. Concordo com a opinião da Megale, era um cisco. Ou quiçá lembranças da juventude em que estiveram apartados, sem muito assunto em comum, os dois poetas, divergentes transgressores de outrora. E hoje, ambos senhores de respeito, caídos nas graças da unanimidade feminina, e carregados de uma nostalgia natural da idade, choram por qualquer dedilhar, por qualquer verso que traga aquela fagulha tão presente em nossas carcaças jovens e pandescas.
Agora, se ele sabe que está na vitrine? Ah, sabe. Tanto o Chico para todas, quanto o Caê para o público mais misto.

Mas afinal, foste ou não ao RJ ver Caê, minha Flô?

Bjos
J.G

Nataly disse...

Ahahahahah! Que maravilha!
"Agora, chega de choro amor, vamos pro samba". Gênia Marília! Lobby.
E acho que no verão ele toma Spritz.
Lindo o texto.
Saudades imensas.

clara paiva disse...

ele bebe whisky,obveeo!
e gente, deixa a gente pirar na ideia que o chico chorou e que nao era um cisco?
brigadu,
bja

Seleme disse...

sua geninha, que delícia de cena!!!

Rô Dezan disse...

buniitaa!!! e tb imaginei direitinho a cena...amei o texto, mazi! muito vc!
saudades!!!
beijos

Renata Megale disse...

minha opiniao de bebida:
vino roso!