quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sobre profissões I

Desde de pequena eu queria ser atriz. Completamente convicta. Decidi isso aos 4 anos, quando participava de uma espécie de Balé alternativo que a gente podia “ser o que quiser”, segurando tules coloridos. E foi esse sonho maluco que eu sustentei até ... os 19 anos de idade. Isso mesmo. Durou muito tempo o meu desejo de viver outras vidas que não a minha. Logicamente rendeu um preju pro meu pai que pagou anos a fio de aulas de teatro, livros e mumunhas sem fim. Tem uma história clássica na minha casa. Fizemos, quando eu tinha 14 anos, a montagem da novela de Louisa May Alcott, “Adoráveis Mulheres”. E eu aluguei meus pais para me ajudarem a decorar meu texto ( eu estava super emocionada porque tinha sido escolhida, para além da minha personagem, ser a narradora da peça). Aí estava eu lá, me achando a Winona Ryder, encima do sofá com o texto na mão, declamando super alto: “ Era verão em mil novecentos e bolinha, em Massachussets, (pausa) mas pera, Pai, onde fica Massachussets?”. E a risada começou e nunca mais parou. Ainda vieram a Catarina de Shakespeare e 3 anos em que eu me achava uma menestrel completa. Uma formulinha extremamente viciante que aprendemos quando entramos, todas as amigas juntas, naquele teatro. A vida -- a minha vida -- se resumia ( à parte das recuperações de física e matemática), a dançar, cantar e ter a certeza que o mundo era repleto de neo-hippies ocidentais. Eu aprendi a manusear lanternas, malabares, e outras pirotecnias. Quando dormia, sonhava com as cenas da peça e minha rotina era feita de ensaios de final de semana, de roupas largas e cabelos soltos. Churrascos, cantorias e muita, mas muita, risada. Além da prática, tinha ao investimento na teoria. Coisa de filha de intelectual. Aí comecei minhas leituras: A primeira foi o Eugênio Kusnet, que tinha seis lições de intrepretações. Depois veio a trilogia do Stanislavski, um pouco de Brecht e Nelson Rodrigues. Me apaixonei pela peça “A tempestade” do Shakespeare e também pela delicadeza de Tchekhov. Mas eu não parei por aí. Virei uma ratinha de teatro. Fazíamos o programa completo: íamos e eu meu pai, assistir alguma coisa “com texto bom”, dizia ele. Harold Pinter, Bernard Shaw e ... Chico Buarque. Depois meu pai me levava para comer em algum lugar bem típico do centro. Eu me encantava com aquela vida, acontecendo de verdade. Fomos na Familia Mancini, comer um bauru no ponto chic, novidades sem fim, pra mim, é claro. Um dia eu desencanei, me desiludi, sei lá, mas isso é papo pra outro texto. Disso tudo me restaram tesouros maravilhosos: A Kiru, minha irmã linda que brilha nos palcos e continua me proporcionando essa vivência onírica. Uma biblioteca de teatro gigante, que é o meu xodó. Vira e mexe, pego um livro ou outro para relembrar alguma doçura. E uma última coisa: a sensação de uma estréia no palco. Nada minha gente, nem textos elogiadíssimos, nem o abraço mais sincero, nem um MBA international surrond sound, se compara ao friozinho na barriga que dá quando abre aquela cortina. Dizem que é a deusa do teatro que paira pelas cochias soprando brilhinhos nos atores. Eu? Ah ... eu acredito.

2 comentários:

Nataly disse...

Gentém, amigos, e admiradores de Mazola, deu pra entender agora porque ela é uma flor de raposa...
Vc´s já viram tanta delicadeza, talento e ternura juntos... Pois eu nunca. É como a tal flor de raposa, poucos sentiram o veludinho cheiroso de suas pétalas, porque ela é uma flor: rara. Dessas que estão em extinção. Minha avó cresceu despetalando-a pelos campos amarelos de Trás-os-Montes.
E hoje a Marília é a minha flor de raposa. Rara, cheirosa e cor de violeta. Presente da vida, que inspira e conforta. Amiga pra todas as horas e quilômetros.
Querida quanta coisa linda por aqui! Que saudades de ouvir as suas histórias, de atualizar as pandices.
Te amo muito.
Nataly

Uma Ju disse...

Amore, amei esse post. Dá pra ver (imaginar) vc lá, sobre o sofá, e as risadas...
Sabe que me lembrei que qdo eu era pequena eu tmb queria ser atriz. Na verdade eu queria ser famosa, e isso incluía, dentre outras coisas, ser atriz (depois de cantora, modelo, dançarina etc).
Aí, sei lá, o tempo passou, meus pais me convenceram facilmente que o lance era fazer GV pra ficar rica e... pronto, deu no que deu: no meio termo, o jornalismo.
Beijoca, lindinha.
(pequena compartilhada...)