segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mumunhas

Vc me chamava de fulôzinha. Sua flor. Muitos cadeados, para fechar qualquer pedacinho de alma que tivesse ali, dando sopa no ar. “Sentimento a gente não pode sair por aí, oferecendo para todo mundo”, me dizia você, austero e com aquele ar de dono da verdade. Eu nunca liguei para nada que vc reclamasse de mim. Sentimento não é algo que a gente regula, como um despertador ou intensidade de água de chuveiro. Vem de dentro, é coisa divina. É avaro quem economiza sentimento. “Não entendo porque você tem que ser tão simpática sempre, com tudo mundo”. “Eu sou simpática”, eu te dizia, calma e cheia de amor. O Cd do Cartola tocando e nós dois com suspiros cansados. Versos e Trovas. Palavras nas pontas dos dedos. Pés nos travesseiros e travesseiros nos pés. “A ambiguidade promete salvação", já diria Roland Barthes. Depois, vieram os colares arrebentados e choros escapados em pequenos soluços. Pétalas de Yemanjá abençando a renovação. Eu gostava das doçuras, de quando, bem lentamente, você encostava sua mão no meu queixo e sussurrava : “fulôzinha”. Depois vinha cheio de convicção citando Vinícius: “Quando vc vai compreender, que o ciúme é o perfume do amor ? ”. Eu não compreendi e nem você. Mas sobraram aquelas partituras, as claves de sol, debaixo dos nossos telhados velhos. E isso, meu querido, é canção. É canção.

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