sexta-feira, 18 de julho de 2008

Sobre o choro-canção

Foi um dia lá na Puc mesmo, no Xingu, que a conversa surgiu. A gente sentou no bar, e uma das meninas tava meio borocochô, contando que tinha chorado o dia todo. Então a Letícia perguntou: “Vocês já choraram no trabalho? ”, Nossa! Foi uma confissão geral. Cada uma com uma história mais absurda e dramática. A Nilds por exemplo, me contou que tem épocas em que ela dá uma choradinha diária mesmo -- tipo um cigarrinho -- ela sai da sala, chora um nani, e fica pronta pra próxima. Já minha amiga-linda-overseas, chorava no computador. Na frente de todo mundo, lendo os e-mails e se lamuriando das angústias. Eu, particularmente, acho que nunca chorei no trabalho. Vá lá -- talvez tenha deixado escapar unas lagrimitas de desabafo. Mas nada drama queen. Não é porque eu não choro, não. É que meu lugar preferido é o carro. Aicomoébomchorarnocarro!!! Saiu da terapia, coloca Chicão no som e manda bala: “ quando olhaste bem nos olhos meus e o teu olhar era de adeus”... ah... lá vem a cachoeira de lágrimas. Aí o fulano do carro do lado olha pra vc e se sensibiliza, com aquele olhar: “ não aguento ver uma mulher chorando”, dá uma satisfaçãozinha!! Chorar no banho é gostoso tbm. Acende uma velinha, chora aquele choro contido do dia inteiro e depois relaxa com essências de flores. Porque tem choro que é pra ser dividido: aluga as amiga, chora as pitangas e pronto. Mas tem choro que é coisa íntima, é tu com tu mesmo e fim de papo.

***
E não é que estamos final de semana passado, eu a Naná, assistindo uma comédia romântica bem boboca, levinha, só pra distrair. De repente... eu não aguentei, saiu. Foi um chorinho manso, sem pensamentos embutidos, e meu deu uma vergonhinha: “Marilia, onde já se viu? Chorar em comédia romântica?”pensei, eu. Dali uns segundos comecei a ouvir um snif snif. Era a Nanas, na outra ponta do sofá, toda debulhadinha em lágrimas. Esses choros de comédia românticas são muiiiiito bons . São do tipo de choro que vem seguido do riso -- um dos melhores. É... porque tem aquele choro que é mais tímido , o que escapa no telefone, os soluços de tirar o ar. Tem os mais punks : choro de ciúme que corrói : tão dolorido que quase não sai. E o choro de saudade -- esse é difícil porque é todo misturado: raiva com vontade de ficar perto. E tem o choro de samba né? O marido da minha irmã, que é francês, não entende por exemplo, como a gente pode cantar uma música triste se saculejando toda. Eu expliquei: é que o sambinha embala a melancolia, embala o consolo: tem o maestro Tom “Chora flauta, chora pinho /Choro eu o teu cantor /Chora manso, bem baixinho/Nesse choro falando de amor". A Clara Nunes: “molhei o pano da cuíca com as minhas lágrimas”. E o clásssssssico do Aragão: “ Pode chorar, pode chorar, mas choooooooooooooooooora”. A-do-ro. Porque a gente é incoerente assim : riso e choro, tudo na mesma sopa. E será que essa não é mesmo, a graça de todas coisas?

4 comentários:

Renata disse...

eu choro assim, borrando maquiagem, fazendo o nariz ficar vermelho e todo mundo pergunta: o que aconteceu? nada, soh angustia no meu peito! ahhh prima!

Gabi Borges disse...

Má (já estou íntima),
Adorei o texto! Aliás, podia muito bem ter sido escrito por mim, rs. Adouro chorar vendo uma boa comédia romântica, hehehe.
Beijos

Marina Morena Costa disse...

Ai, Mazi! To adorando essa nossa interlocução blogueira. Lembrei do meu texto sobre o choro da moça. É diferente do seu, claro, mas o comentário q vc deixou lá falava um pouco das coisinhas q estão aqui.
Adoro! O blog tá uma delícia.
Beijo grande

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado