quarta-feira, 23 de julho de 2008

Carinho não é ruim

A Cia das Letras vai relançar toda a obra do Vinícius de Moraes. Como tbm já to nesse clima Bossa -Nova fifty years, não ia dar pra não fazer uma homenagem para o poetinha, né ?
É... porque nós, incoerentes que somos, amamos e odiamos ele. A gente ama, porque ninguém tem taaaanto mel nas palavras. Sensibilidade até o último fio de cabelo. E odeia, porque além de ser o autor da famosa frase absurda: “as feias que me desculpem, mas o mundo é das bonitas”, ele amava de verdade só aquele copinho de whisky.
Todo mundo já namorou o Vinícius né? O “monstro da delizadeza”, nénão, Nata?
A minha história com ele começou na adolescência, com o livro de sonetos. Decorei três: do amor total, de fidelidade e da separação. É impressionante como cada coisa tem seu tempo. Amor-total era lindo. Recitava o poema na ponta da língua: “amo-te tanto meu amor, não cante o humano coração com mais verdade”. O da fidelidade, é típico de quando a gente se apaixona pela primeira vez: “ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure” -- básico. Virou frase nas orelhas dos cadernos de escola. Aí vem a perda e aquela coisa melodramática de quando vc tem 15 anos: “De repente, não mais que de repente”. E o pior, culpa do Vinícius, é que a gente acredita nessa história de não-mais-que-de-repente. Mó-balela, nada é de repente. Mas enfim... Passado os sonetos, ganhei do Fe, meu irmão-amado, a antologia poética e vou elegendo até hoje, meu “Vinícius" do momento. Teve a fase do “para viver um grande amor” -- bem carioca mesmo. Com direito a molejinho, cervejinha, misturinhas e afins: "... é preciso muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor” -- Ah poetinha, me engana que eu gosto. Sério? Não. Essa não era a graça dele. Acho que o que pega é quando a gente lê “Para uma menina com uma flor” e ele faz uma descrição liiiiiinda da namo, esperando as malas na esteira do aeroporto. Convenhamos: um homem, que acha a namorada sexy, na fila da mala do aeroporto é, no mínimo, apaixonante. Depois a descoberta das músicas. Ele, yalorixá de xangô na Bahia. Se apaixonou pela décima vez, largou tudo e foi embora atrás da Yansã morenona. Ou a canção que fez para a primeira filha: “menininha do meu coração, eu só quero você a três palmos do chão”. Junto com Toquinho rodando o globo cantando “Na tonga da mironga do kabuletê”. Fazendo todo mundo se questionar o que raios era essa reza esquisita.
Mas nos últimos anos continuo com o mesmo Vinícius na cabeça. O panda. Sim, o poetinha tbm tem uma faceta panda. É o meu preferido: “Mensagem à poesia” ele diz, com açúcar nas pontas dos dedos: “digam-lhe que me foi dada/A terrível participação, e que possivelmente/Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias/Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora”. Não é só namoro não, é história de amor, mesmo.
Canta pra subir, “saravá” pra todos nós.

5 comentários:

Renata disse...

o poetinha de todos nós!
vamos relembrar e amá-lo como sempre?
araxa vai tremer logo mais de tanta emoção!
prima, mas só uma coisinha: você tem a escrita linda, uma cultura única e ainda é minha panda amiga.
O que eu faço com você?
EMBRULHO!!

Uma Ju disse...

confesso, mazi, que gosto mais do lado bukowskiano do mestre: 'o uísque é o cachorro engarrafado' e aquelas pragas todas de 'eu vou mandar você pra tonga da mironga'. adorei o post. texto incri. como é que vc decora tudo isso, hein? me empresta esse hd.
beijoca.

Mariana Dall' Acqua disse...

POETINHA!
SEMPRE ONIPRESENTE

Beatriz Antunes disse...

Antes de sequer ouvir Saltimbancos eu já ouvia o disco "Testamento" até o final, junto com a minha tia que preparava o almoço da família toda na casa de praia. Especialmente esta música me fazia corar, soava definitivamente a coisa de gente grande: "Quando a porta abriu, você me olhou, você sorriu / Ah, você se derreteu e se atirou, me envolveu, nem brincou / Conferiu o que era seu". Nunca achei o poetinha lá muito católico, não. E até hoje ouço, e só não viro o lado porque agora é em CD.

Anônimo disse...

Saravá Mazola!
É exatamente tudo isso.
"Porque vc é uma menina com uma flor e tem uma voz que nao sai... e um andar de pajem medieval..."
Uma das mais lindas declaraçoes de amor mais lindas que já li. Ai, ai.