terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Anos dourados

Talvez fosse uma própria petulância minha. Mas reencontrá-lo é sempre me certificar que alguma coisa quebrou para sempre. É bater de frente com aqueles episódios já desgarrados da história. Petulante, ele. Menino, homem. Homem, menino. Apontou meus defeitos com o dedo indicador, sem misericórdia. E tinha uma voz que fazia cócega. O primeiro amor a gente nunca esquece ? Não necessariamente. Mas como pondera Francisco : "é desconcertante rever um grande amor".
"Não posso ser negligente com o meu passado" - me disseram outro dia. E eu nunca seria negligente com aquele moleque frouxo encima de uma bicicleta. A voz perfumada e as palavras sempre resplandescentes. Eu, menina, dosando a intensidade do batom, aprendendo a dar nós em laços afetivos. Tudo agora, tem asas nele. Até a beleza magoada do olhar. Inquieto, perturbado. Eu perguntei: "tudo bem?" E ele respondeu: " Tudo intenso, como sempre". Ele ainda pousa os olhos com pedras e palavras. "Bom te ver", disse com um riso eufórico e nostálgico. E, embora ecoasse na minha cabeça: "como eu posso ter me desconectado dessa maneira de alguém que já me preencheu tanto ?", brilharam pequenas memórias: uma fita cassete esquecida no carro, cinemas às quartas-feiras, Caetano cantando Odara. Que o silêncio nunca foi a nossa qualidade, eu sempre soube. Ao contrário dos espaços infinitos e das brigas nas escadarias da vida. E passou. Ontem quando no telefonema descabido, a tal voz rouca sussurou "linda", não havia colorido ou trilha sonora. Nada de badalar dos sinos. Só a certeza e a segurança de que não existe mais espaço para canastrices ou exclamações. Porque a cólica cessou e os ressentimentos foram amaciados por rosas que nasceram. Parece dezembro de um ano dourado...

8 comentários:

Bombom disse...

Lindo!

Mariana Dall' Acqua disse...

"como eu posso ter me desconectado dessa maneira de alguém que já me preencheu tanto ?"
PERFEITO
AMO

Ana Mari Carvalho disse...

eu bem sei o quanto me desconcerto quando os revejo. sentido aqui.

Uma Ju disse...

que incrível isso, mazi!!!
rever grande amor é sempre algo, quer dizer, nunca passa batido.
mas é isso mesmo, a gente desconecta.
e assim, de repente - ou talvez nem tão de repente assim - a gente olha pro sujeito e se vê quase que de frente para um passante, não é?
as coisas mudaram, o tempo atuou, os dois amadureceram (e acho que é justamente esse fator que faz tão contundente as "novas" diferenças), enfim, a vida corre...
se vc deu de cara com o passado e viu que não há mais espaço pra babaquice, ponto para você, mazi.
trocando em miúdos, vc é mulher e linda, estará sempre à frente de qualquer ex(zinho).
quando o príncipe pintar por aí, você vai vê-lo com felicidade porque ele estará ao seu lado, do jeitinho que tem que ser. e será que eu sei.
amo-t.

Anônimo disse...

Essa sua amiga Juliana Dantas é foda. To com ela.
Ponto pra vc Mazi.
Te amo.
n.

Marina Morena Costa disse...

querida, fiquei (ficamos) mais de uma semana sem suas palavras, pandices e mumunhas... que falta elas fazem! Juro! Muita.
mas eu entendo perfeitamente. Às vezes a gente precisa se fechar, ouvir o coração, organizar os pensamentos, pra colocar pra fora os sentimentos em um texto tão lindo como este.
incrível, mazi... tão verdadeiro. E é tão bom quando nos vemos livres, não é?
Liberdade. A melhor coisa do mundo.
Adorei! Amo.

Ps- Tbm concordo muito com a Ju. Ponto pra vc, flor =)

Renata Megale disse...

coisa mais divina! vejo a sua carinha. me lembrou aquela musica;
"vc entrou no trem, e eu aqui, vendo o sol fugir...E o meu coração embora finja fazer mil viajens...fica batendo parado naquela estação.
bjoooocas.

Ana Elisa Faria disse...

Nossa! Que texto bonito, Mazinha!

beijo.