segunda-feira, 6 de outubro de 2008


Buenos Aires tem cheiro de baunilha. Luzes sépia e vento na medida certa- não faz fechar os olhos, mas movimenta os corações. Foram 2 dias. Um “recital” do Dave Matthews, um “asado” en el norte e todos hablando la lengua mas dulce. Nosso pibe, Maxi já tava esperava a gente no aeroporto todo cavalheiro - como um bom argentino que é. Logo ligou o som e disse felizinho : “ Chicas, a mi me encanta Natiruts”. Sorrimos. Foi o primeiro dos 89897897897 sorrisos da nossa nani-viagem.
***
Nós duas de novo. Nenas para cima e para baixo, igualzinho há quatro anos. Estiradas em gramadões com aquele solzinho enviado por Deus; entrando e saindo de tiendas, entupidas de helado de doce-de-leite e “patinado” no nosso cas-te-lla-no. A tomar una cerveza e dar risada das coisas que eles dizem. “Si... pero los brasileños no son facheros como nosotros - hay que se estrechar lazos Brasil y Argentina”. Sim, Maxi, sim. Chamuchando siempre.
***
O mais lindo é ver as diferenças de linguagem - amo. Nacho disse que acha que os brasileiros são mais inteligentes porque usamos o verbo “experimentar” ao invés de “probar” - “Pues claro, Marilia - o sea- cuando se experimenta, se vive con todos los sentidos”. Embrulha. Sim, Nacho, mas vocês usam “que buena onda” enquanto a gente só tem um “legal” sem graça.

***
Aí rola aquele momento que é o mais especial das viagens - o minuto exato em que a cabeça levanta vôo, sem nenhuma censura... se va hasta el infinito com a imaginação, só pensando coisas lindas e absurdas: “Nossa, eu muito moraria aqui nessa casinha na beira do rio da prata e tomaria ‘mate’ e dançaria quartetos e acariciaria esse cabelinho compridinho deles e deixaria todo o meu mundo pra trás”. ups - ok, digressão de los piensamientos, suspiro do mundo, epifania, alumbramentos - lo que sea.

***
Como estávamos com o nosso pibe argetininho, vimos uma Buenos Aires muito pouco óbvia: familias argentinas no rio, comendo cachorro quente e passeando por ruelinhas com ar de primavera - llenas de azaléias floridas. Eles continuam lindos, elegantes e sedutores. Elas agora não têm mais cabelos modernos - deixam até a cintura, contemplam um olhar de independência e são, juro, pandas. Pandocas total. Não vimos nenhuma argentina de mala-leche.

***
Eles falam do Boca como os nossos falam do Corinthians. Na bombonera tinha um cartaz gigante com as cores do time, escrito: “Colores de la passion” - quase um “ eu nunca vou te abandonar porque eu te amo”. Afetivos e convictos, esses argentinos :“ Ves, Marilia acá hay muchas canciones para Maradona” Foram 45 minutos falando da vida do homem, como o físico dele é incrível - praticamente um mutante e pasmem! como ele é bom pai: “ a las hijas les quiere mucho, hace de todo por ellas” - quase me sensibilizei - disse quase porque não, o Maradona ainda não é alguém que me toca profundamente.

***
Quem me toca é o Bioy Casares e o jeito que eles olham quando a gente passa na rua. A curiosidade que elas têm de saber de nós brasileñas e uma certa melancolia na voz quando eles falam da crise financeira : “Pero Brasil está mucho mejor” - naaaaaao, a gente nunca vai estar porque não temos nem 1/5 dessa força deles.

***
E metade ficou lá. Num barquinho distante, no rio da prata. Com ventinho gelado e cheiro de baunilha

Nenhum comentário: