quarta-feira, 23 de abril de 2008

SAN JORDI e otras cositas más...

Querida Nata,
Muitas coisas. A primeira dela é que hoje é dia de San Jordi ( o patrono da Catalunya), né?
Quando eu estava aí junto com a Nanas ( há 4 anos, por diós), fiquei encantada com o ritual todo. Olha só o que aconteceu. Morávamos na casa de uma senhora, sim a Margarita, que logo no café da manhã, nos contou que no dia de San Jordi, os homens regalavam flores as mulheres e em troca elas lhes davam livros. Eu achei aquilo meio estranho, mas ok. Ainda assim... encasquetei: "ué, e mulher não precisa ler?". Mas a Margarita me contou que tudo isso tinha um porquê. Diz a lenda que San Jordi (São Jorge, --sim ele mesmo -- Jorge da Capadócia: "para que tenha mãos e não me alcance") matou um dragão que assombrava os pueblos da catalunya. E que no lugar de sangue, foi derramado um mar de rosas. Ok, lindo isso, mas até aí, onde entra os livros? Ao que parece 23 de abril é também a data de morte do Cervantes e por isso se comemora presentando com livros. Acredita?
A verdade é que quando saí na rua fique encantada com as banquinhas de flores e livros. Nada parecido com o nosso dia dos namorados "compre um celular para ele e fale quando quiser". Tudo muito orgânico e de verdade. Fomos las dos brasileñas, nesse mesmo dia, cenar com alguns suecos. Leia-se: os suecos não entendem de romance, nem de malemolência. Mas queriam nos ensinar a cozinhar. Nata, vc já pode imaginar o que foi né? Eles cozinharam maravilhosamente bem e a gente male/male fez uma caipiriña digna de ser apreciada... Mas sabe o que me impressionou? Eles, los dos suequitos que mal sabiam diferenciar feminino e masculino no espanhol, me contaram que tinham amarrado uma rosa em uma linha e que tinham descido a flor bem devagarinho do sexto andar, até a senhora que limpava o prédio deles, no térreo. Achei uma graça o jeito que eles "incorporaram" o ritual de um outro país. Depois me deliciei com um tiramissú e fomos embora pra casa. Na rua... ainda resquícios das flores, como na manhã depois do reveillon quando as flores amanhecidas de desejo ainda restam na areia, sabe?
E quando chegamos na casa da nossa senhorinha... duas rosas estavam lá, esperando a gente. Quem foi? San Jordi. Así creo yo.
Lindeza, não importa o livro, não importa os "significantes". Mas o que resta é isso... uma neblina de lembranças que pouco tem a ver com os objetos e sim, com os rituais.
te quiero querida.
Besito
Mazi

2 comentários:

Bombom disse...

Que lindo que lindo! Do jeito doce que você conta, da vontade de viver muitas e muitas historias ... ainda mais no velho mundo. Conta mais, conta mais!!

Anônimo disse...

Quem há de entender os desígnios de Jorge de Capadócia?