quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Caminhão de mudança -- parte II

Esquecer para sempre.
Noites de ciúme. O choro de saudade na mesa do Almanara quando ele foi embora. Todos os telefonemas falsos. Echar al viento las corrientes del mal. Aquilo que impede de ver, madrugadas de insônia, falta de grana, carro quebrado. Maquiagem borrada no fim de festa ruim. Ressaca de bebida e de coração. Esquecer aquilo que se fala demais. Esquecer o guardar para si por medo e falta de coragem. Deixar para tras grandes pesadelos de pequenos cochilos. Minutos que parecem horas, horas que parecem dias. Esquecer a bronca dele, a conversa de demissão. O dia em que ela chegou de novo bufando na mesa. A tensão de não ter pra dar, de que não ter tempo suficiente. O medo da frustração, cada máscara ruim. A sensação de saber que ele estava mentindo e ainda assim não conseguir reagir. Horas na fila da PUC, conversas difíceis com pais, todos os telemarketings, a falta de guarda-chuva bem no meio de uma tempestade. Jogar fora os papéis que prendem a uma história que não diz mais nada, fechar a conta do banco que não se usa mais. Esquecer o sentimento de impotência, de falta de escolha. Todos nós da madeira, a música que não tocou, o convite que não foi aceito. Uma ligação errada numa madrugada errada. Esquecer o 'não" grosseiro, a ofensa gratuita no trânsito, manhãs corridas, provas sem nenhuma preparação. Esquecer o olhar de repreensão e o sentimento de inferioridade. Ele saindo com a austeridade de quem não passou uma noite junto. Esquecer as traições, todas. Feitas e recebidas. Esquecer ela inventando histórias mirabolantes pra dizer que não. Esquecer do aniversário ruim, dia mais frio do ano, todos os erros irreparáveis. Esquecer o que não volta, o que está fechado e não tem mais jeito. Esquecer as contas atrasadas, uma chave largada num canto do mundo. Memórias de uma menina má. Inconviniências, mal humor e todas as TPMs. Esquecer quem foi e não deixou nada de bom. E preparar... porque agora vai.

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