Parece que o nosso Franciscão Buarque - deixou escapar lagrimitas, no show do Caetano, nesse final de semana. A música que tocou o coração del poetón foi aquela linda, eternizada na voz da Gal, Força Estranha.
Já me imaginei na cena, lógico.
Nós dois, no Canecão. Caetano cantando algo do Zii e Zie. E eu sentada do lado do Chico, tentaria pegar na mão dele enquanto ele discretamente se esquivaria dizendo: “Linda, aqui não. Está cheio de fotógrafos”. Eu ficaria emburrada e já começaria a pensar: “Tá vendo, Marilia? Por que foi se envolver com esse cara? Isso que dá querer ficar com homem mais velho, inteligente, desejado. Agora não pode nem segurar na mão enquanto o Caê embala uma música romântica”. Mas logo o Caetano começaria com uma das suas músicas animadinhas e eu, tomada de fúria, iria dançar lá na frente. Só de birra, colocaria as mãos pro alto e com um leve reboladinho, cantaria bem alto: “eta, eta, eta, eta... é a lua , é o sol, é a luz de Tieta, eta, eta, eta”. O Chico não seria nem bobo de ceder à minha provocação - afinal ele não é um moleque cheio de cinismo, mas o Chico né minha gente? - e continuaria ali, na mesa, concentrado, introspectivo. Depois de perceber que de nada adiantaria minhas súplicas na beira do palco, eu voltaria pra mesa. Um pouco ofegante e já envergonhada do meu papel infantil. E ele lá, estático. Então, depois de um grande silêncio, Caetano faria uma daquelas introduções lindas - que só ele sabe fazer ... e começaria bem delicadamente : “Eu vi um menino correndo/ Eu vi o tempo brincando ao redor/ do caminho daquele menino". Pouco a pouco, os olhinhos verdes do poeta começariam a baixar e o corpo dele a ficaria encolhido na cadeira. Um gole na cerveja ( ou seria whisky? O que será que bebe o Chico?) e uma tosse sem som. E a música on and on: “eu pus os meus pés no riacho/ E acho que nunca os tirei/ O sol ainda brilha na estrada que eu nunca passei". Ele daria uma piscada mais longa - dessas que a gente dá quando tem uma nostalgia. E ali mesmo eu flagraria... uma lagrimita. Pequena, mas doída, saindo dos olhos mareados do Franciscão, bem no agudo do Caetano : “Por isso uma força, me leva a cantar. Por isso essa força estranha no ar. Por isso é que eu canto, não posso parar. Por isso essa voz tamanha". E aí... aí.... ele deixaria eu segurar na mão dele. Forte. E o Caetano sorriria, daquele jeito que ele sorri quando canta:" Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista. O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece/ Aquele que conhece o jogo, o jogo das coisas que são". Eu pensaria "Nossa. Quanta angústia, que coisa!". E devagar, enquanto ele soltaria minha mão, daria o último sussurro choroso, junto com a música : "É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão". E eu falaria: "Agora chega de choro Amor, vamos para o samba". E ele obediente, já totalmente rendido, seguraria minha mão, em meio a todos os flashes.
terça-feira, 12 de maio de 2009
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11 comentários:
hum. eu não sei o que ele bebe. mas compactuo da opinião da Fafá de Belém quando lhe perguntei por que tamanha fixação em gravá-lo. "O Chico consegue dizer coisas indizíveis. Traduz sentimentos com palavras certas, que a gente jamais usaria. E que ninguém sabe fazer como ele". Simples assim.
mazi, que amor de texto!
consigo ver a sua provocação, toda pandinha e doce, na tentativa de puxar a atenção do mestre. o chico, ó, o chico...será que ele sabe que é ele que está nas nossas "vitrine" imaginária? coitado... acho que não.
e a gente, aqui, a catar a poesia entornada no chão.
sobre o texto, de novo, delicado, lindíssimo!
amo-t.
por essas e outras.
Hahahaha!!! Demais, mazinha! Imaginei a cena direitinho. O que será que se passou naquele instante em que uma lágrima escorreu? Aiai...
Lindo isso que a Ju disse também. Ele tem estado demais nas minhas "vitrines", por conta do livro!
Terminei e vou escrever um post citando o comentário q vc fez. Uma frase simples que diz tudo.
Como é bom esse espacinho!
Saudades!
Amo!
bjo!
acho que ele bebe scoth...
adorei o texto!
bjs
gente, era só um cisco....
ãhãmmm!
parfait, quando vc autorizar... já sabe, né?
bjocas
Ele bebe é Negroni. Concordo com a opinião da Megale, era um cisco. Ou quiçá lembranças da juventude em que estiveram apartados, sem muito assunto em comum, os dois poetas, divergentes transgressores de outrora. E hoje, ambos senhores de respeito, caídos nas graças da unanimidade feminina, e carregados de uma nostalgia natural da idade, choram por qualquer dedilhar, por qualquer verso que traga aquela fagulha tão presente em nossas carcaças jovens e pandescas.
Agora, se ele sabe que está na vitrine? Ah, sabe. Tanto o Chico para todas, quanto o Caê para o público mais misto.
Mas afinal, foste ou não ao RJ ver Caê, minha Flô?
Bjos
J.G
Ahahahahah! Que maravilha!
"Agora, chega de choro amor, vamos pro samba". Gênia Marília! Lobby.
E acho que no verão ele toma Spritz.
Lindo o texto.
Saudades imensas.
ele bebe whisky,obveeo!
e gente, deixa a gente pirar na ideia que o chico chorou e que nao era um cisco?
brigadu,
bja
sua geninha, que delícia de cena!!!
buniitaa!!! e tb imaginei direitinho a cena...amei o texto, mazi! muito vc!
saudades!!!
beijos
minha opiniao de bebida:
vino roso!
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