segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Silêncio afinado

"Todo silêncio é música em estado de gravidez", disse o Mia Couto, num livro lindo.
Eu nunca soube muito bem como interpretar os silêncios. E essa falta de habilidade sempre me prejudicou muito. Eu sou muito falante e as falas em excesso deixam poucos espaços vazios: os tais silêncios. No jornal, aprendi na diagramação que toda página precisa de uns buraquinhos brancos, sem linhas ou fotos, os respiros – ou silêncios. É, difícil lidar com eles, eu sempre falo para o diagramador: “mas vai ficar esse buraco aí? Não é melhor a gente colocar alguma coisa? ” É que a gente confunde silêncio com tédio. Mas não é. É a mesma sensação que dá quando acaba a luz de casa. Dá uma ansiedade, um desespero, a gente pensa: “mas e agora, o que eu vou fazer? Não posso assitir tv, ler, entrar no computador” ... é vc vai ter que ficar em silêncio, pensar, conversar com alguém. Não é fácil, precisa de tempo para entender os silêncios. O Mia Couto foi maravilhosomente esperto nesse livro que chama Antes de nascer o mundo: ele inventou um “afinador de silêncios”. Sim, é um personagem que fica perto das pesoas e “ tece os delicados fios com que se fabrica a quietude”. Não é lindo isso? Eu já tive alguns afinadores de silêncios. São aquelas pessoas que, só de estar perto, já basta. E que quando abrem a boca já estão com o silêncio tão afinado que nasce uma música. E hoje, não sei porque razão, me deu vontade de falar deles. Desses afinadores geniais que andam na contramão do tempo, do trânsito e dos problemas cotidianos. Esses pequenos vaga-lumes que – mesmo que de passagem – só deixam lembrança e o maior dos ensinamentos: o bem-estar com os espaços vazios que são, na realidade, a nossa maior liberdade.

5 comentários:

Lusseleme disse...

aiai...que lindo o despertar, né, mazi?

Juliana disse...

você é uma grande afinadora de silêncio para mim! e uma grande compositora também..lindo texto, Tami.

Uma Ju disse...

amiga,
que texto lindo. lindíssimo.
mais uma vez - e de uma vez por todas -,(esse, na minha modesta opinião, é o mais lindo da casa), vc verbalizou essa grande sensibilidade que é sua.
parabéns, mazi: pela forma, pela grande leveza e pela graça de ser minha amiga.
saudades,
ju.

b. disse...

lindo livro e lindo texto.
delicados silencios.
como diz peter brook, a ação só toma devida importancia por causa do silência que a antecende.
a intenção do silêncio. pode reprensentar tanto mais que as palvaras da nossa limitada linguagem verbal.

beijinhos da bi.

Beatriz Cutait disse...

Querida, passei por aqui e adorei o que li! Lindo texto, viu? Agora eu fiquei com vontade de ler o livro do Mia Couto. Pela sua inspiração, tenho certeza de que deve ser ótimo mesmo. Bjs grandes da prima!