segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A terapia e a terapeuta

Eu tinha só dezoito anos. Ainda não dirigia, minha vida era colégio, cursinho e teatro. Tinha paranoia com regime, lia Clarice Lispector, adorava mitologia grega e era apaixonada pelo meu vizinho que andava de bicicleta. Foi nesse estado que eu resolvi fazer terapia.
E a Beth- minha terapeuta - era exatamente o que eu imaginava de uma psicanalista: elegante, discreta, calma. Foram 7 anos. Um chororô sem fim naquele divã. E ela, lá. Me entendia. Dizia as coisas com uma delicadeza sem precedentes. Diagnosticou todas as loucurinhas da minha cabeça. E me ajudou, todos os dias, a tirar as pedrinhas dos sapatos. Ser mulher não é fácil. Mas é bonito. Ah Beth, querida.
Beth,
Estranha essa relação que fica restrita a um sofá. Eu sei que em análise a gente deve se conter, racionalizar, é como se fosse um trabalho científico. De dissecar os pensamentos, as angústias, aprender a blindar, a resolver, crescer, enfim. Para mim a terapia foi um processo profundamente revelador sem, no entanto, perder a graça de uma boa conversa. Então foi difícil ter que assumir uma postura tão "não panda"na hora de fechar esse ciclo.
Queria, sei lá, te agradecer. Por todas as segundas feiras chuvosas, pelas manhãs de quinta-feira. E também te dizer que a sua delicadeza é uma sorte. Foi bom poder chorar quando tive vontade. Foi bom saber que tudo bem. Que tudo é tudo bem. Ficar triste, ficar demasiadamente feliz, de ressaca vez ou outra, também. Tudo bem sentir vontade de não ir, ter raiva das pessoas que a gente ama. Tudo bem deixar de gostar de alguém. Ou querer muito ser aceita em algum circunstância. Obrigada Beth, por me ouvir com tanta atenção. Por prestar atenção nos textos e e-mails que eu te li, sessões atras de sessões. Por me ajudar a desvendar meus sonhos. Pelos elogios e puxões de orelha.
Obrigada por abrir meus olhos para meus exageros e mimos, tá?
beijos carinhosos.

Um comentário:

Uma Ju disse...

querida mazinha,
boa sorte na "nova" caminhada pós-beth. tenho certeza (se é que é possível ter alguma nessa vida?!?) que você irá tirar de letra os apuros, desabores etc.
não sou beth, mas gosto muitissimo de vc. por módicos copinhos de cerveja, super-topo ser tipo terapeuta nas horas vagas.
saudades,
ju.